Ainda
sobre História de um Casamento.
Eu
não vim ao mundo para atender às suas demandas e nem você veio para atender as
minhas. Se em algum momento nos encontrarmos e conseguirmos conciliá-las poderá
ser maravilhoso. Do contrário nada poderá ser feito.
Parece
ser esta a questão determinante das relações e não só daquelas de nossos
desejos mais íntimos. Somos feitos, essencialmente, para nós ou para os outros?
Quando
Bergman filmou Cenas de um Casamento vivíamos o pós-guerra e Sartre e Simone foram
fundo nas questões do Ser. Era um tempo de rebeldia e dele derivou, sem dúvida,
muito do que está aí hoje.
Para
Sartre quando alguém escolhe casar, mantém presente algo estabelecido, aceito e
compactuado pela sociedade. Portanto, determinado pelos outros.
No
tempo presente em que é mais dramático parecer ser do que Ser,
as relações mais íntimas amplificaram exponencialmente a complexidade de Ser a Dois.
Os
ditames independente de seus matizes, se mais liberais ou conservadores, impõem
circunstancias ao viver muitas vezes insuportáveis. E viver fica mais
comezinho. Ou, se quiserem, menor.
Provavelmente
nunca foi tão difícil Ser. E, mais provavelmente ainda, nunca foi tão difícil Ser
com
o Outro, já que não é possível ser para o Outro.
Gosto
de olhar para a proposição de Noah nesta perspectiva, embora a
dimensão do filme permita uma lente muito mais ampla de abordagem. Aliás, como
de resto, toda boa obra de arte.
Presumo
que as circunstâncias externas impostas pela ambiência, especialmente pela
avassaladora pressão midiática em que tudo está explícito, torna o encontro
entre duas pessoas cada vez mais desafiante.
Enfim,
eu não escolho alguém e alguém me escolhe. A questão é o que remete aos outros
a nossa escolha e, parece residir aqui, um drama do contemporâneo.
Eu
Sou? Ou devo ser conforme?
Para
Pierre Cardin, aquele costureiro da época existencialista, o que move o mundo é
a Moda e a Fome. Nunca dantes neste mundinho de Deus os dois vetores estiveram tão
presentes.
Não
que um casamento deva necessariamente durar para sempre por força de um dos
preceitos caducos de determinada Igreja. Vinicius poetou sobre, quando iluminou
de que deva ser infinito enquanto dure. Não, mas a questão não é essa.
Quando
nos deixarão viver de fato a nossa imensa procura por Ser, por ter uma
individualidade complementada por força de uma escolha quase cega de um Outro
igualmente demandante e literalmente cego das duas orelhas?
No
filme a personagem de Scarlett se casa de novo, não é?
Caramba,
às favas, as circunstâncias! Permitam.
Até
breve.
Obs.:
Acho que o post serve também para casais homoafetivos.
Eu nunca entendi o que minha mãe queria dizer quando a gente eventualmente se machucava e chorava, ... ela costumava dizer, " Não se preocupe, que quando casar ...sara". Eu nunca entendi, acho que poderia ser invertido, né? ... Quando sarar...case.
ResponderExcluirUm abraço, feliz natal . Saúde.
Brigado, Elaine. Tud de bom procê tumbém.
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