“Só
sei que nada sei, e nem disto eu estou certo.”
PIRRO, filósofo grego morto
em 275 a.C.
Eu
amo um primo meu, não só porque ele seja meu oftalmologista, mas por ele ter um
coração cheio de mel. Foi ele quem me despertou para visitar meus parentes em
Elche, na Espanha. E lá, foi bom de doer.
Quando
de uma consulta sobre minha visão ele me disse que eu tinha algo de raro, uma
vista que enxerga ao longe e outra que enxerga de perto. Egóico como sou não
precisava de um melado maior.
Dali
em diante fiquei cheio de si (como diriam os paulistas), já que - então - poucos
gozam do privilégio de enxergar com amplitude. Para eu, que sempre me
considerei o sujeito mais humilde do mundo, não precisaria de mais nada.
No
dia a dia percebo mesmo essa prerrogativa. Dirigindo automóvel eu às vezes no
trajeto me vejo já no destino e se não é a outra visão de curta distância eu
viveria colidindo com o carro imediatamente à minha frente.
Se
bem que isto parece não ter nada com a visão, mas com outra característica
minha que é a ansiedade. Enfim, por que estou derivando sobre esta bobagem?
Ah,
sim, para discorrer sobre o que se passa e por força de nossas escolhas.
Com
a vista longa analiso o brilhantismo das propostas dos administradores da área
econômica para criar mecanismos de saída da crise aguda pela qual passam as
finanças públicas. Se houver seriedade legislativa vamos sim ter como
resultante do debate projetos relevantes em boa direção.
Com
a vista curta, minha íris perde luz. Os dois polos advindos do topo da pirâmide
institucional, perpassando suas bílis pelas redes sociais e celebrizando
oportunistas de plantão constroem a cena mais obscura dos últimos tempos.
As
eleições de 2018 não podiam desaguar senão nesta catástrofe. Afinal a maioria
não escolheu nenhum e nem outro que estão ainda nos palanques. O voto em um foi
para que o outro não vencesse e deu no que deu. A maioria ficou com ambos que não
queríamos.
Coisas
da regulação normativa da democracia. Até hoje sofro com a forma que meu grito
foi calado. Ao anular o meu voto assim como a grande maioria que votou contra
para não votar a favor, não fomos considerados.
Talvez
tenhamos que voltar às ruas de junho de 2013 para ouvir que o BASTA era para
tudo o que estava ali. E em 2019 recebemos da história a consolidação do que
mais repudiamos. Um condenado solto e um transloucado ungido.
E
como nada pode estar tão ruim que não possa piorar a vizinhança se engalfinha
também padecendo da mesma mazela: a ausência de líderes com estatura de
estadistas para enfrentar a complexidade dos desafios que se apresentam.
Recebi
de um empresário amigo que, inadvertidamente, acompanha meu blog, uma mensagem
no zapzap, propondo que eu renovasse a esperança e procurasse tomar uma injeção
de otimismo na veia.
Desde
piquininim eu ouço dizer que o Brasil é o país do futuro. Como meu futuro deve contemplar,
no melhor das hipóteses, duas décadas, acho que vou tomar duas ampolas de
Otimismum na veia.
E duas
capsulas de Omeprazol para atenuar o refluxo.
Tornar-me-ei,
como tantos, em um drogadito.
Até
breve.
Eh, meu amigo. Sugiro você voltar a ser criança (o ciclo natural da vida já proporciona esse privilégio) é brincar de pirata. Mas cuidado para não vendar o olho errado.
ResponderExcluirJulinho, acabei de ter um diálogo com Lelê, minha netinha de três anos:
Excluir-Lelê, cê tá vestida de Helena de Avalon?
-Não, vovõ, de Helena de BH.
Pois é. Só prá dizer que você, como sempre, tem razão. Beijo, amigo.