“O
homem não é tão ferido pelo que acontece, e sim por sua opinião sobre o que
acontece.”
Michel de Montaigne
Ingressei-me
no processo formal de produção capitalista no ano de 1967, então com 15 anos de
idade, quando tive a minha Carteira de Trabalho assinada pela primeira vez.
Antes
disso, operei na informalidade, vendendo bolinho de feijão de porta em porta,
distribui panfletos de propaganda, fiz faxina em lojas comerciais, fui
balconista.
Não
se assustem com a foto acima na CT. Sou eu mesmo, em versão clicada por aqueles
fotógrafos lambe-lambe do Parque Municipal de BH.
Desde
sempre tenho me empenhado em dar o melhor de mim para a maximização de
resultados, fruto de meu trabalho. Recebi até aqui, como recompensa, em boa
medida.
Entre 1967 e 1992, ascendi na carreira profissional, passando por
organizações de grande porte dos setores têxtil, químico, minerador,
siderúrgico, automobilístico, alimentício e financeiro.
Ao
longo daqueles 25 anos, boa parte deles, estive a frente de negociações
trabalhistas enquanto representante do campo patronal. Também rodei o país participando
de mesas de debates, palestrante, conferencista em inúmeros eventos que
problematizavam o trabalho dentro da economia capitalista.
Participei
ainda de inúmeros cursos, congressos, simpósios, visitas técnicas, inclusive na
Universidade do Trabalhador cujo patrono era o extraordinário educador Paulo
Freire, com quem estive um par de horas debatendo em Cajamar. Nada melhor do
que poder respeitar os opositores de nossas ideias que, até por isto, nos fortalecem
e iluminam nossas convicções.
Nunca
tive dúvidas daquilo que representava: o capitalismo em sua vertente mais
potente – a geração de riqueza para todos nele aplicados.
Tenho
lembrança do respeito e admiração por parte de todos com quem me relacionei:
líderes sindicais de expressão nacional, os quais, mesmo em tempos das mais
agudas crises negociais, sabiam que eu defendia que entre a tese (maiores
lucros) e a antítese (maiores salários) buscávamos a melhor síntese.
Tenho
isto como expressivo patrimônio pessoal: ter sido executivo defensor do melhor
modelo capitalista. Pude contribuir para que organizações e seus colaboradores
expandissem suas riquezas.
Em
1993 instalei minha empresa de consultoria. No mesmo ano fui convidado a dar
aulas pela Fundação Dom Cabral, pelo IBMEC e pela FGV. Convivi com dezenas de
milhares de executivos juniores, plenos, seniores e masters em programas de
formulação estratégica e desenvolvimento de liderança de alta performance.
Essa
oportunidade é outra riqueza de valor incomensurável contabilizada no meu
patrimônio: pessoas com as quais pude, enquanto supostamente eu “dava aulas”,
aprender mais do que todos.
Fui
me afastando da cátedra na medida em que a consultoria roubava das salas de
aulas, minhas horas de aplicação. A partir do início dos anos 2000 até hoje
tenho me dedicado exclusivamente a prática consultiva e atuado em Conselhos de
alguns grupos empresariais.
Às
vezes lamento por não trazer aqui no blog experiências (e não são poucas) de
sucesso na condução de projetos estratégicos. Não o faço por acreditar que
apenas aos meus clientes pertence o protagonismo, pertence a eles o sucesso e,
afinal, me pagaram por isto.
Essa
longa introdução foi para dizer que, embora não goste de rótulos, pelas
circunstâncias abro uma exceção e me autonomeio como capitalista.
E
por que o faço? Para me distinguir e junto com todos aqueles que comigo se
assemelham. Aqueles que diuturnamente, durante toda a vida, fizeram do trabalho
o seu único meio para a geração de riqueza para si e para tantos que dela se
beneficiaram.
Para
me distinguir daqueles que, embora combatam o capitalismo com pseudodiscursos ideológicos
amplamente distorcidos (a boa maioria deles nunca debruçaram sobre Marx, Engels
e etc) desenvolveram uma práxis empresarial e política dentro de uma lógica
torpe e criminosa.
Ao
capitalismo mais selvagem pertencem aqueles que durante décadas
vampirizaram, através de perversa trama público/privada, os bens públicos e
remeteram os bilionários resultados via offshores.
No
próximo dia 27, ocorrerá o julgamento de um desses elementos integrantes da
pior parcela do capitalismo torpe nacional. Ele será julgado por uma
quinquilharia de ter recebido um sítio como contrapartida por seus inestimáveis
préstimos. As verdadeiras somas são explicitadas em diferentes fontes entre
elas no filme em cartaz da Netflix: A Lavanderia.
A
prova material já foi confiscada e leiloada pela União. Ele deverá ser
naturalmente condenado pela indiscutível e insofismável culpabilidade. E poderá
continuar livre, por força dos perversos e competentes tentáculos que bancam a
parte podre do capitalismo.
Enquanto
isto uma turba cega e fanática cantará hinos de louvor ao sátrapa.
Perdoem-me
pela extensão do texto, mas se quiserem saber por que falo tanto de mim
precisarão ler Montaigne.
Até
breve.
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