“O
melhor negócio do mundo no futuro será a misericórdia.”
(Fala do protagonista do
filme EUFORIA, em cartaz na Netflix)
Eduardo
Galeano, em vídeo O Tempo e o Modo, nos convida a pensar. Ele diz que o
arco-íris celeste é menor do que o arco-íris terrestre.
Todas
as cores naturais estão contempladas no fenômeno celeste. Nós vemos apenas
aquelas com as quais nos identificamos.
As
“cores” do fenômeno terrestre são mais diversas e mais difíceis de serem
aceitas, vistas, absorvidas ao longo de toda a História.
Ele
se refere a quanto empobrecemos ao longo da História na medida em que excluímos
tantas “cores” que deveriam ter sido usadas para compor o mosaico da tela
humana.
As
mulheres foram excluídas. A Declaração dos Direitos Humanos redigida pós queda
da Bastilha foi um documento elaborado e imposto pelos homens. Uma mulher
rebelou-se e entendeu que deveria ser também escrita a Declaração dos Direitos
da Mulher. Ela foi decapitada.
Os
negros, os índios, os pobres, os exilados, os refugiados. Pedissem que a Guerra
de Tróia fosse contada por um dos soldados que nela combateram provavelmente
teríamos uma versão de “cor” diferente daqueles que a relataram.
As
guerras são historiadas pelos generais que não participam da luta, portanto não
sabem do olor do sangue derramado.
O
tempo histórico foi registrado ao modo da crueldade e da barbárie. Nenhuma raça
do planeta se mostra tão iníqua e tão empobrecida diante da riqueza e da
abundância de suas imensas potencialidades.
Por
um feliz acaso depois de ter assistido ao vídeo citado, me deparei com o filme
italiano EUFORIA, na Netflix.
Não
é de todo possível fazer uma relação direta entre o vídeo e o filme, exceto por
uma curta cena do enredo. O protagonista é um exitoso arquiteto que está
negociando com autoridades da Europa a construção de abrigos para refugiados.
Na
cena, ele está em um restaurante com um amigo e o irmão. Depois de tecer
considerações sobre o projeto ele diz a frase epígrafe deste post.
O
filme é belíssimo de uma “cor” diversa à ligação que faço com o vídeo de
Galeano. Vale a pena ser visto pela sua contemporaneidade, pela beleza do drama
e pela qualidade da fotografia além da performance do ator principal.
Fui
dormir pensando sobre o privilégio do acaso em ter me defrontado com as duas
obras.
Minhas
retinas fatigadas e delimitadas pela minha imensa ignorância têm me impedido de
olhar ao arco-íris terrestre e, no mínimo, compreender melhor o espectro amplo
da sua matriz.
Talvez
derive daí toda a minha pequenez.
Até
breve.
Querido Agulhô, que belíssima reflexão. É uma aquarela, um mosaico colorido de belíssimas ideias. Entendo que, neste momento cheio de 'nós contra eles', o Eduardo Galeano deve estar pasmo com a premonição de Machado de Assis, que dizia: "Tudo é uma questão de ponto de vista. Até o chicote pode ser bom, se você estiver do lado do cabo".
ResponderExcluirBrigado, Julim. Bração.
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