quarta-feira, 6 de novembro de 2019

DRAG




Cada dia que passa fico mais senil. E acho bom. Podem até supor, pelos meus últimos posts, que vivo uma depressão. Pois não suponham não, é a mais pura e honesta verdade.

Estou profundamente deprimido.

Os mais próximos recomendam que eu procure ajuda e, como é inerente aos deprimidos, resisto.

- “Eu estou bem.”, respondo com desdém.

O que ando sabendo ou procurando saber tem aprofundado minha senilidade. Tem horas que eu mesmo fico preocupado com o que penso a partir do que ouço, leio, vejo, escuto.

Hoje, como de resto todos os dias, deparei-me com a coluna do horoscopo do Quiroga, no Estadão.

Vejam:

 “Pelo jeito do andar da carruagem da história humana, para nós usufruirmos as potencialidades disponíveis e conseguirmos expressar o melhor de nós, em primeiro lugar teremos de, novamente, piorar bastante, até nos exaurirmos de sofrimento, até não podermos mais aguentar a consciência de existirmos exilados do lugar que merecemos, mas que temos de conquistar pelo empenho e pela nobre intenção que oriente nossas ações. Cada um de nós suporta seu próprio quinhão de uma ignorância intencional que nossa humanidade executa há centenas de anos, nela se acomodando e erguendo as mãos ao céu em busca de proteção contra si mesma. Essas mãos que se erguem em prece precisam se voltar na direção dos semelhantes e com eles e elas começar a construir uma existência na qual a proteção dos relacionamentos seja sempre a prioridade.”

Com horóscopo eu preciso de analista? Claro que não.

Ah, a ignorância intencional! É preciso preservá-la nos tempos presentes. Os algoritmos que nos rondam as telas sabem mais de nós do que nós próprios. Estimulam nossas mais guardadas idiossincrasias, nossos segredos mais recônditos, nossas mazelas íntimas inconfessáveis.  

E nas redes, das quais me evadi, ficando só aqui com minha solidão amorfa, todos buscam um lugar de ser ou parecer ser. No passado as pessoas tinham que lutar contra a exploração; no século 21 a maior luta é contra ser irrelevante.

Mas o que vai significar a vida humana quando todas as decisões forem tomadas por um algoritmo? Não temos modelos filosóficos e existenciais para entender e interpretar uma vida como essa.

Enquanto isto eu me evado e sobrevivo. Eu aqui com meus botões e o outro eu de mim na labuta diária e produtiva junto aos meus queridos clientes empresariais.

Minha senilidade vai me permitindo estes dois euzinhos de mim. O que vive as perguntas essenciais e outro que opera a vida mais comezinha.

Num e noutro procuro proteger-me e, no íntimo, busco manter meus relacionamentos mais sadios.


Até breve.

DRAG – do inglês, resistência.

4 comentários:

  1. Nunca diga , Deprimido, não combina com você que tudo tem . Um abraço , escritor querido.

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    1. Prá tudo falta um gadim só proeu tê, mais cê tem razão, eu tenho é um tudão desse tamanhão mes. Agora deprimido eu de tô sim por conta de unstrem qui mi comete. Mais num liga não viu, querida. Gosto muito docê quando parece aqui.

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  2. Vou lhe dar uma sugestão,...se permitires é claro, ...volte para o face, onde você levantava um assunto, publicava, enchia o coração de todos com sua inteligência e humor. Escreva , sempre , vc encanta a gente com sua sensibilidade , porque penso que á quem foi dado tamanho dom, deve ser dividido sempre.
    Quanto à estar deprimido, ...98 por cento das pessoas estão, mas poucas admitem. Um abraço, amigo mais que querido .

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    1. Querida, agradeço-lhe a sugestão, mas não vou poder acatá-la. Pretendo continuar só aqui, vivendo minha pequena redoma criativa e plataforma das minhas mais singelasm convicções. Beijo procê.

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