Dói
em mim a ignorância. Sinto-a fisicamente. O alargamento da complexidade do
tempo presente e a multiplicidade de paradigmas que se apresentam para que
possamos dar conta da realidade, me esgota.
Minha
avidez por compreender a partir de referências intelectuais de profundidade que
o quadro exige, me extenua.
As
réguas com as quais medíamos os fenômenos não estão calibradas e o futuro não é
mais como costumava ser.
Desde
sempre vivi na superfície, sou formado por lacunas abissais de conhecimento. Some-se
a isso uma preguiça doentia e uma irresponsabilidade intelectual condenável.
Parece
paradoxal, mas é como eu digo. Eu merecia de mim mais atenção e zelo, talvez
derivasse disso uma contribuição efetiva de minha prática com as letras.
Como
se não me bastassem a preguiça e a irresponsabilidade ainda há uma mazela em
mim que repugna: a inveja.
Senti
dores musculares decorrentes de sentimentos de extensa inveja hoje enquanto
assistia, em vídeo, à conferência de Manuel Castells, professor emérito de Sociologia
da Universidade da Califórnia, Berkeley e professor de Comunicação da
Universidade do Sul da Califórnia.
Castells
é um dos maiores especialistas do mundo em explosões sociais. Este sociólogo e
economista espanhol, que também é um dos autores mais citados nas ciências
sociais, analisou a crise que a democracia liberal está vivenciando no
seminário "Explosões Sociais: Uma Visão Global", organizado pelo
Centro de Estudos Públicos, do Chile, no último dia 06.
Eu
que deveria estar ali, dizendo todas aquelas coisas.
"Os
movimentos sociais não são movimentos políticos, os movimentos políticos são
políticos, buscam a transformação do Estado. Os movimentos sociais são aqueles
que buscam a emergência, o debate de novas formas culturais", ao explicar as características do fenômeno. "O que acontece é que os cidadãos
não têm confiança em seus parlamentares ou seus governos ou seus presidentes ou
especialmente em seus partidos políticos. Há uma rejeição unânime de todas as
partes, eles não são considerados legítimos ou viáveis.”
Para
Castells ocorre uma ruptura entre governados e governantes que se estende de um
ao outro lado do planeta, amplificado pelo advento da tecnologia de informação
que neste momento contempla 7 bilhões de números de telefones móveis.
E
em todas as manifestações, em que pesem algumas nuances específicas locais,
todo o mundo clama por algo que se pode traduzir numa palavra: DIGNIDADE.
Misturado
à inveja nutro um imenso fascínio por pessoas como este catalão com sua
ausência total de rigidez teórica, imenso apego ao estudo da realidade, forte
exercício da imaginação para equacionar soluções aos problemas emergentes e,
sobretudo, uma invejável carga ética e valorização da dignidade humana.
Ave,
Castells!
Até
breve.
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