Em
entrevista, há algum tempo, Chico Buarque de Holanda disse que se Vinicius de Moraes
estivesse vivo seria um desses quaisquer que compõem modinhas pelaí.
No
máximo um embaixadorzinho de carreira, tomador de uísque à beira do Lago
Paranoá. Mulheres provavelmente ele teria tantas quantas quisesse mais do que
aquelas nove com as quais o poetinha se enroscou.
A
única coisa que Chico disse na entrevista está na primeira frase. O resto são
maledicências minhas.
Os
tempos são outros, claro. Na verdade, nem tão claro, posto que obscuros,
estranhos, muito mais complexos do que já teriam sido. A Cultura hoje foi até parar no Ministério do Turismo.
O
amor, a paixão, a conquista, a transa, o ciúme, a dor-de-cotovelo, a perda, a
saudade, a desilusão, em tempos vinicianos compunham outra bossa. E tome letras
embaladas em músicas enlevadas em fumaças politica e ecologicamente incorretas
banhadas com scotch de duvidosa procedência.
A
gente sentia no fígado a dor de amar.
A
aproximação era um porre. E quando afinal tomava-se coragem para “pedir para
namorar” era inevitável a paciência já que a caça vinha com emblemática frase
de época:
-
Vou pensar e te dou a resposta.
Entre
o pedido e a resposta, às vezes, transcorriam semanas, mês. Ate quê:
-
Tudo bem, mas com as seguintes condições...
Pegar
na mão só depois de algumas semanas, beijo no rosto, mês. Encontros as terças e
quintas das 19:30 às 22:00, aos sábados final de tarde até as 22:00, quando não
tinha hora-dançante que podia ir até por volta da 01:00 da madruga. Claro com
acompanhante de ilibada conduta.
Aos
domingos, matinê no cinema, rodinha de amigos e desenlace a noite.
Assim.
Hoje
eu não tenho a menor ideia de quanto tempo leva entre o pedido prá namorar até
a resposta, e, mais ainda, não sou capaz de supor quais são as condições
estabelecidas para que se transcorra.
À
distância, acho que mudou.
E
mudou tanto que, talvez, explique porque Pablo Vittar ganhou recentemente na
Europa o Prêmio de Artista Brasileiro de maior influência.
Legal
isso, né?
Eu
acho.
Até
breve.
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