“A
função dramatúrgica de substituir aquilo que não pode estar presente, ele é uma
substituição rica, ele é a carta que pode fechar uma canastra quando você não
tem a carta real.”
ANSELMO
VASCONCELLOS
Pois
é, há ainda muito a explorar de Coringa.
“Tudo
o que ouvimos sobre esse filme é que devemos temer e ficar longe dele. Nos
disseram que é violento, doente e moralmente corrupto. Fomos informados de que
a polícia estará presente em todas as sessões neste fim de semana em caso de
‘problemas’. Nosso país está em profundo desespero, nossa constituição está em
pedaços, um maníaco desonesto do Queens tem acesso aos códigos nucleares – mas
por algum motivo, é de um filme que devemos ter medo.
Eu
sugeriria o contrário: o maior perigo para a sociedade pode ser se você não for
ver este filme. A história que conta e as questões que ela suscita são tão
profundas, tão necessárias, que se você desviar o olhar da genialidade dessa
obra de arte, perderá o que ela está nos oferecendo. Sim, há um palhaço
perturbado, mas ele não está sozinho – estamos de pé ao lado dele. Coringa não
é um filme de quadrinhos.”
Trecho
de um artigo do cineasta diretor de “Tiros em Columbine” Michael Moore, que
recebi ontem de uma amiga via zapzap.
Ontem,
ainda ruminando, coloquei-me a pensar sobre a fala de Simone de Beauvoir em um
diálogo com Sartre: “Vocês fizeram todas as peças”. Ela posicionava o parceiro
quanto ao lugar do masculino na feitura da História.
Não
“olho” para esta citação na perspectiva do homem masculino, mas de todo aquele
que, independente do gênero representa e exerce o lugar de poder
discricionário.
Fazendo
uma forção-de-barra ou recorrendo à licença poética cheguei a pensar de que
essa mãe louca, impotente, vilipendiada por quem a explorou durante décadas, representa
simbolicamente a Sociedade.
Em
tese - eu disse que iria forçar - a Sociedade aqui como ente de acolhimento, maternalidade, afeto e berço da
convivência explorada e reprimida pelo Poder Absoluto, representado em Coringa
pelo “pai” de Arthur ou, se quiserem, o Estado.
Ir
por aí é se permitir pensar no esgotamento dos mecanismos democráticos e na
estruturação das instituições representativas contemporâneos. Claro que não
estou me restringindo à nossa realidade, mas no sentido mais amplo, Ocidental.
A
cena apoteótica que coloca Arthur no estúdio de TV frente ao ícone do mundo
midiático é belíssima, pela explicitação deste esgotamento. O apresentador
tenta contemporizar a amargura de Arthur frente a tudo que ele teria vivido até
ali:
-
Nem tudo está tão mal, Arthur...
-
Tudo está horrível! Você é horrível!
Assistam.
Até
breve.
Depoi dessa, estou intimado a assistir.
ResponderExcluirDepois dessa, estou intimado a assistir.
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