Achei
que com o post de ontem havia trucado todo o jogo, mas não, com este coringa
ainda há muito a jogar.
O
filme é, como quer Canudo, uma síntese de todas as Artes.
Qualquer
arquiteto deverá estar atento a inúmeras cenas de Gothan City, especialmente os
urbanistas.
Aos
escultores, inspirem-se na figura do protagonista como um poço de formas
expressivas.
Ah,
a literatura! O brilhantismo da narrativa, a construção de cada diálogo, as
falas, as metáforas, as metonímias, e a poesia, toda ela denotando o martírio
do Ser.
Caramba,
a Dança! As coreografias performáticas de Phoenix são um primor. A tensão
corporal de cada músculo, notadamente os faciais, os braços, as pernas tudo
contorce compondo um corpo em profunda, intensa, dilacerante dor.
A
nenhum pintor faltará inspiração se se ativer a fotogramas da película. As
cores, a iluminação, a profundidade de seres e objetos, os contornos, as inúmeras
composições a serem emolduradas.
E
a música? A trilha sonora de Coringa funda a catarse, não há como não se
emocionar quando entram em cenas os acordes e a letra da canção surge. Smile,
de Charles Chaplin. Não poderia ser outra.
SORRIA
Sorria, embora seu coração esteja doendo
Sorria, mesmo que ele esteja partido
Quando há nuvens no céu,
Você conseguirá...
Sorria, mesmo que ele esteja partido
Quando há nuvens no céu,
Você conseguirá...
Se você sorrir
Com seu medo e tristeza
Sorria e talvez amanhã
Você verá o sol brilhando, para você
Com seu medo e tristeza
Sorria e talvez amanhã
Você verá o sol brilhando, para você
Ilumine seu rosto com alegria
Esconda qualquer traço de tristeza
Embora uma lágrima possa estar tão próxima
Esse é o tempo que você tem que continuar tentando
Esconda qualquer traço de tristeza
Embora uma lágrima possa estar tão próxima
Esse é o tempo que você tem que continuar tentando
Sorria, o que adianta chorar?
Você descobrirá que a vida ainda continua
Se você apenas sorrir
Este é o momento que você tem que
continuar tentando
Sorria, de que adianta chorar?
Você descobrirá que a vida ainda continua
Se você apenas sorrir
O
singelo, o doce, a leveza, a composição primária e simples.
A
cena em que Arthur entra no cinema e se depara com cenas do filme de Chaplin
será catalogada para o acervo das eternas. Coringa faz um tributo ao ícone da
comédia cinematográfica. É o único momento em que Arthur sorri sem explicitar
sua loucura. Seu sorriso está carregado de acolhimento, ali, talvez, ele tenha
se sentido verdadeiramente feliz.
O filme Coringa funde-se com o de Chaplin e faz uma belíssima
tentativa de denunciar, pela Arte, o horror dos tempos modernos.
Ave,
Coringa!
Até
breve.
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