segunda-feira, 21 de outubro de 2019

INÓCULOS





Não sei se no sábado ou no domingo um inseto me mordeu na perna, pouco acima do calcanhar. Acho que ele deixou algo em minhas veias. Apalpando no local ainda dói. Estranho.

Também no sábado, com certeza, fui a um evento patrocinado pela Associação Médica de MG e afiliadas, encerrando a semana em que se comemora o Dia do Médico, no dia 18 e no dia 12 o Dia Internacional dos Cuidados Paliativos.

Convidada para falar a competente filósofa da Nova Acrópole, Lúcia Helena Galvão, a quem fui cumprimentar e disse que ela tem sido um facho de luz para mim e para tantos diante do obscurantismo que grassa.

Desenvolveu seu tema “Reflexões para a Vida e para a Morte” em dois momentos do evento, na abertura e no encerramento. No intervalo das sempre brilhantes proposições de Lúcia, falou a presidente da Associação Mineira de Teratologia sobre a importância dos Cuidados Paliativos e o alcance internacional da questão.

Saí de lá bastante provocado pelo o que foi dito a respeito do avanço da Medicina no que tange a atenuação da dor de pacientes terminais e daqueles em torno que padecem a perda.

No momento em que se refletia sobre a Vida e a Morte, um destaque para a Dor.

Ontem à noite, também com certeza, fui assistir ao espetáculo estrelado pela Camila Pitanga: “Por que não vivemos?”, de Anton Tchekhov.

A peça trata do conflito entre gerações, das transformações sociais através das mudanças internas do indivíduo, das questões do homem comum e do pequeno que existem em cada um de nós, e do legado para as gerações futuras. Tudo isso na fronteira entre o drama e a comédia, com múltiplas linhas narrativas.

Foi escrita momentos antes da Revolução Russa, quando a sociedade da época estava sendo muito questionada. Há certa apatia, uma paralisia que toma conta das pessoas e Tchekhov parece criticar esse tédio, essa situação que é relatada pelos próprios personagens, que falam de uma vida enfadonha.

“Anna é uma mulher que por um lado tem certa autonomia, uma liberdade de pensar e de expressar seus desejos, mas, ao mesmo tempo, ela está se dando conta de que, mesmo com essa liberdade, há uma condição na qual ela ainda se vê de certa forma presa, atada por algumas amarras”, comenta Camila, que realiza agora seu primeiro trabalho com o premiado grupo de Curitiba.

A atriz, na mesma entrevista, disse que, apesar de ter sido escrita no século XIX, a peça dialoga muito com o presente, especialmente tendo em vista as tensões que têm atravessado o Brasil cotidianamente. Diante das dificuldades impostas pelo contexto de crise e das pressões de um crescente conservadorismo, a artista frisa ser importante não sucumbir à letargia. “A peça nos convida a pensar sobre a apatia e sobre a passividade, que precisa ser furada e transformada”, completa ela.

Claro que há muito a dizer sobre o privilégio de ter vivido estes dois eventos no final de semana, especialmente porque fui um dos eleitos para assistir o Primeiro Ato da peça no palco bem próximo dos atores.

Na apoteose do Primeiro Ato os atores distribuem garrafas de cerveja aos espectadores que estão no palco. A minha foi entregue por Camila.

Dormi pensando na picada. Precisamos ser furados e transformados.

Ah, a Dor!


Até breve.

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