Não
sei se no sábado ou no domingo um inseto me mordeu na perna, pouco acima do
calcanhar. Acho que ele deixou algo em minhas veias. Apalpando no local ainda dói.
Estranho.
Também
no sábado, com certeza, fui a um evento patrocinado pela Associação Médica de
MG e afiliadas, encerrando a semana em que se comemora o Dia do Médico, no dia
18 e no dia 12 o Dia Internacional dos Cuidados Paliativos.
Convidada
para falar a competente filósofa da Nova Acrópole, Lúcia Helena Galvão, a quem
fui cumprimentar e disse que ela tem sido um facho de luz para mim e para
tantos diante do obscurantismo que grassa.
Desenvolveu
seu tema “Reflexões para a Vida e para a Morte” em dois momentos do evento, na
abertura e no encerramento. No intervalo das sempre brilhantes proposições de
Lúcia, falou a presidente da Associação Mineira de Teratologia sobre a
importância dos Cuidados Paliativos e o alcance internacional da questão.
Saí
de lá bastante provocado pelo o que foi dito a respeito do avanço da Medicina
no que tange a atenuação da dor de pacientes terminais e daqueles em torno que
padecem a perda.
No
momento em que se refletia sobre a Vida e a Morte, um destaque para a Dor.
Ontem
à noite, também com certeza, fui assistir ao espetáculo estrelado pela Camila
Pitanga: “Por que não vivemos?”, de Anton Tchekhov.
A
peça trata do conflito entre gerações, das transformações sociais através das
mudanças internas do indivíduo, das questões do homem comum e do pequeno que
existem em cada um de nós, e do legado para as gerações futuras. Tudo isso na
fronteira entre o drama e a comédia, com múltiplas linhas narrativas.
Foi
escrita momentos antes da Revolução Russa, quando a sociedade da época estava
sendo muito questionada. Há certa apatia, uma paralisia que toma conta das
pessoas e Tchekhov parece criticar esse tédio, essa situação que é relatada
pelos próprios personagens, que falam de uma vida enfadonha.
“Anna
é uma mulher que por um lado tem certa autonomia, uma liberdade de pensar e de
expressar seus desejos, mas, ao mesmo tempo, ela está se dando conta de que,
mesmo com essa liberdade, há uma condição na qual ela ainda se vê de certa
forma presa, atada por algumas amarras”, comenta Camila, que realiza agora seu
primeiro trabalho com o premiado grupo de Curitiba.
A
atriz, na mesma entrevista, disse que, apesar de ter sido escrita no século XIX, a
peça dialoga muito com o presente, especialmente tendo em vista as tensões que
têm atravessado o Brasil cotidianamente. Diante das dificuldades impostas pelo
contexto de crise e das pressões de um crescente conservadorismo, a artista
frisa ser importante não sucumbir à letargia. “A peça nos convida a pensar
sobre a apatia e sobre a passividade, que precisa ser furada e transformada”,
completa ela.
Claro
que há muito a dizer sobre o privilégio de ter vivido estes dois eventos no
final de semana, especialmente porque fui um dos eleitos para assistir o
Primeiro Ato da peça no palco bem próximo dos atores.
Na
apoteose do Primeiro Ato os atores distribuem garrafas de cerveja aos
espectadores que estão no palco. A minha foi entregue por Camila.
Dormi
pensando na picada. Precisamos ser furados e transformados.
Ah,
a Dor!
Até
breve.
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