quinta-feira, 10 de outubro de 2019

GROG




A atriz Andreia Horta foi perguntada em entrevista como gostaria de morrer em cena.

- “Discreto e silencioso meu coração pararia de bater e eu morreria elegante, sentada em um trono de rainha olhando para a plateia sob um foco de luz”.

Lindo, não?

Pois é.

Estou lendo Como Viver (*) de Sarah Bakewell, por quem me apaixonei depois de ter lido, dela também, No Café Existencialista. Recorro à orelha do livro para eu me fazer entender.

Excêntrico, preguiçoso, inconsistente, esquecido, Montaigne é o filósofo que quebrou um tabu e falou de si mesmo em público. Mais de quatrocentos anos depois, sua honestidade e seu charme continuam atraindo admiradores.

Leitores o procuram em busca de companhia, sabedoria, entretenimento – e em busca de si mesmos.

Este livro é uma fonte valiosa de pequenos conselhos: ler muito, mas manter a mente aberta; ser sociável, mas nos reservar um “quartinho” só nosso; observar o mundo a partir de ângulos diferentes, evitando assim rigidez nas crenças.

Embora não tenha encontrado uma resposta definitiva, Montaigne nunca deixou de fazer a pergunta “como viver?”, isto é: como equilibrar a necessidade de sentir-se seguro com a necessidade de sentir-se livre?

Como superar a perda de uma pessoa que você ama? Como evitar discussões sem sentido? Como lidar com fanáticos? Como aproveitar ao máximo cada momento, para que a vida não escorregue despercebida por entre seus dedos?

Sarah Bakewell nos convida, na esteira de Flaubert, “a ler não para se divertir, como fazem as crianças, ou para ser educado, como fazem os ambiciosos. Ele nos convida a ler para viver”.

Acho que este post resulta do anterior, quando eu me referia a uma pergunta que alguém me fez sobre a Vida. No sábado passado, quando ocorreu o episódio, eu estava suficientemente embriagado (como se o álcool fosse mesmo necessário para me desnudar), e respondi que “estava pronto”.

Pronto para quê, devem ter se perguntado.

A obra essencial de Montaigne tem como título: ENSAIOS. E toda ela nos sugere a pergunta feita à atriz caput deste post.



Até breve.


(*) Bakewell, Sarah – Como viver, ou Uma biografia de Montaigne em uma pergunta e vinte tentativas de resposta/Sarah Bakewell; tradução Clovis Marques – Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

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