“Nunca passaremos
definitivamente da ignorância à certeza, pois o fio do questionamento sempre
nos levará de volta à ignorância”.
Sarah Bakewell
“A necessidade de reflexão,
de fazer sentido em nossa condição temporária, é a dádiva paradoxal que
recebemos do tempo, e possivelmente o melhor consolo.”
Eva Hoffman
Assisti
à Bacurau
no cinema e, no CCBB, ao espetáculo mineiro “E Ainda assim Se levantar”.
Em
cena da peça do CCBB um dos personagens coloca: “Perguntei a meu primo se ele
contrataria um advogado ou um médico. Claro, ele me respondeu. E um ator?
perguntei-lhe em seguida. Para que serve um ator?”.
Frequentemente
coloco-me a pensar sobre o serviço da arte, a função, o lugar. Para além do
entretenimento, à diversão, ao lazer, ao riso. A Arte como formadora de
consciência, em sentido mais amplo que possa ser.
Ontem,
à noite, experimentei emoções trazidas da memória. Na juventude, quando
universitário da FAFICH da Rua Carangola fui assíduo frequentador e entusiasta
participante dos diversos movimentos teatrais acobertados pelo DA.
Ontem,
no CCBB, reexperimentei o sangue nas veias esquentarem pelo texto panfletário encenado.
Um grito, literalmente, para que aquilo que estava sendo trazido fosse ouvido
pela plateia. Instigação, sedução, apelo desesperado, clemência, todo o tipo de
manifestação em benefício de uma escuta.
De
onde podemos encontrar forças quando parece que não podemos aguentar mais? Essa
é a questão proposta pelo espetáculo que encerrou sua temporada, mas que deve
retornar ao palco, por força do sucesso de público.
O texto
resultou de um projeto da pesquisa “a potência da precariedade”, que durante
todo o processo de criação levantou questões que buscam identificar como
podemos encontrar força em situações de eminente esgotamento, pessoal, social
ou político.
Momentos
assim são paradoxais. Como dizia o poeta Holderlin, onde mora o perigo, é lá
que também cresce o que salva. Essa é uma das reflexões que motivaram a criação
do espetáculo.
Bacurau
explicita na telona, por outra vertente, a mesma questão. Até quando vamos
suportar. O filme abre com o enunciado: daqui alguns anos.
Tanto
filme quanto peça não podem ser sorvidos ao pé-da-letra ou a cada cena. Há
muito de arte neles envolvida para horas e horas de reflexão profunda. Quem
sabe até atitudes?
Eu
quero me permitir um tempo para processar.
Ambas
as obras servirão a mim para pensar. Embora tenha presente que, a cada dia,
pensar seja algo que não sirva a muitos.
Até
breve.
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