Depois
de trezentos e vinte e dois anos de jugo sob aqueles que invadiram estas
paragens paradisíacas, afrodisíacas, dadivosas a todas as sementes e
ediceteraetal, essa terra abençoada por Deus e bonita por natureza ypirangou-se.
Por
dissidência familiar de um de seus mais brilhantes membros, que ousou ficar, há
cento e noventa e sete anos deixamos de ser dos outros e passamos a ser de nós
mesmos. Deixamos de ser colônia e viramos uma nação.
Mesmo?
Eu, pa, tenho cá comigo as minhas dúvidas.
Quem
escreve este post não deveria fazê-lo. Lopes, Agulhô, Ferreira, Ramos, Vanucci,
Kupermann, Freitas, Silva, Pasternak, Colleman, Temer, Roussef, Bolsonaro,
Collor, Maia, Zema, Aras, Moro, Acolumbre, Drummond, Guimarães, Rosa, Cândido, Barbosa,
Karnal, Pondé, Cortela, Severo, Buarque, Holanda, Veloso, Braga, Neves, Araujo
e todos os demais invasores dos tupiniquins propósitos.
“Produtos”
importados, muitos de nós evadidos de terras outras, por zilhões de razões que
não cabe abordar. Eu próprio já disse aqui que ouvi meus gritos de criança na
casa construída pelo meu avô na Catalunha. E eu só estive lá para conhecê-la sessenta
anos depois.
A
gente não é daqui. Aqui não existe. Isso aqui é terra de ninguém.
Perdidos
no espaço e no tempo carregando historicamente mantons de manilla (minha avó os
trouxe para sempre lembrar que um dia voltaria) ainda não nos constituímos como
algo que seja de si e próprio.
A
única parcela que se assemelha é a dos infelizes, os miseráveis e os silvícolas
remanescentes, cada vez mais empurrados pela ordem e o progresso (patrocinados
pelos invasores) para seus aglomerados, suas favelas periféricas, suas
vergonhosas reservas, excluídos de ser.
O
valor daqui está lá fora, nosso olhar e conduta sempre foi de atribuir o melhor
às nossas origens, como se coletivamente inconscientes ainda estivéssemos lá.
Vejam,
a questão é séria. Nada que uma reforma previdenciária e fiscal dê conta, a
venda de patrimônio público inservível, a reforma da máquina estatal, a carteirinha
de estudante, os limites de abuso do poder, estas coisinhas poucas
circunstanciais e dahora. A história de uma nação é secular.
Um
de nossos mais brilhantes antropólogos dizia: miscigenizem-se, como se de tanto
misturar resultasse em algo uno.
Não,
o pior é que não.
África,
Ásia, Oceania, Américas misturadas não se tornarão um lugar.
Um
lugar assim como uma pessoa se faz por escolhas e elas ainda não foram feitas.
Sucessivamente temos sido subjugados pelo egoísmo, vilania, truculência de
capatazes. Lembro-me aqui daqueles que violentaram meus avós quando chegaram a
esta terra.
Não
sei se me entristeço ou se opto por gargalhadas ensandecidas quando me deparo
anualmente com estas paradas alusivas à independência, expondo nossas forças
como se quiséssemos dizer aos nossos inimigos do nosso poder. Inimigos? Mas
eles estão aqui dentro, ainda não os descobrimos?
Hoje,
fosse às avenidas, nem de azul iria. Estou envergonhado com o Cruzeiro (Palestra Itália), que nem
de meu posso chamá-lo.
Até
breve.
Agulhô, nem de azul, nem de verde e amarelo, nem de nada eu iria à parada de 7 de Setembro. Afinal, como diz a peça de teatro: o rei está nu, e nós- desesperançados- estamos dentro de uma burca, envergonhados de todas as cores. Saudade do JK, que- mais do que Brasília, energia e transporte- havia nos deixado certo orgulho de sermos brasileiros.
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