A cada ano sou convidado para comemorar o aniversário de
uma amiga junto a um grupo histórico de amigos em Arraial da Ajuda.
Não fui este ano. Ontem falei, por telefone, com a
aniversariante que reclamou a minha ausência e disse da falta que faço no encontro,
especialmente no que tange a uma leitura do clima.
Mais tarde resolvi enviar a ela mensagem no WhatsApp:
“Querida, não vou mais sujar meus
neurônios e nem minhas parcas palavras com nomes e atos destes canalhas
históricos.
Reduzo à minha insignificância
espelhando-me em Chaplin, quando um dia abandonou tudo e optou pelo ostracismo.
Faço isto para poder rir ainda, nem
que seja de mim mesmo.
Perdoe-me por não estar contigo aí.
Grande beijo.”
Embreei-me noite adentro assistindo aos oito capítulos da
série espanhola (ou será basca?), A OITAVA VÍTIMA.
Eletrizante, como todo bom enredo comercial, fui ficando
e de repente me dei conta que tinha esvaziado uma madrugada.
Atentado terrorista vitima oito pessoas. Sete morrem no
local e a oitava, dias depois em um hospital. Filho de um megaempresário.
A delegada responsável pelo caso está grávida de oito
meses. O suspeito responsável pelo atentado é um jovem árabe, Omar, que em cena
preliminar declara que faltava uma trepada para completar cem com a namorada.
A frenética caçada dá ritmo à trama em que se desvelam os
vínculos imbricados dos envolvidos. Não se trata de um atentado, mas de um
plano sórdido do irmão da oitava vitima que, preterido pelo pai para assumir a
presidência dos negócios, constrói com o chefe geral da polícia (integrante da
folha de pagamentos da empresa) a simulação de uma ação terrorista.
Omar é sequestrado por agentes cumplices do chefe para “pagar o pato”.
O filho esperado pela delegada é fruto de relação com a
oitava vitima, casado com uma fulana que é cobiçada pelo irmão do infeliz desde
que ela surgiu na família em que tudo que acontece deve ser superado.
Personagem rico, jornalista investigativo, tece os
contornos das motivações dos protagonistas, com cenas hilariantes, como é de praxe
em roteiros desse quilate, tendo como informante e suporte principal a namorada
de Omar.
Mistericos depois com direito a centésima trepada
inclusa, a madrugada chegou com o oitavo capítulo da série oitava vítima,
empresário amante de uma delegada de quem esperava um filho há oito meses.
Ah, desculpe. A oitava vitima não era filho do
empresário, mas fruto de uma escapada da matrona. Filho mesmo era o arquiteto
da jogada toda. Morrem: a esposa da oitava vítima, o chefe da polícia
articulador e um de seus agentes, um amigo de Omar e a cachorra do jornalista,
além das sete vítimas do atentado que não têm a menor importância, naturalmente.
Desfecho: o pai articula com a alta cúpula do judiciário
e dos órgãos de segurança pública, a versão final dos fatos. Omar pega trinta
anos e a namorada doze.
Fui dormir pensando como deve ser difícil viver na Europa
cuja realidade permite iluminar ficções tão estapafúrdias.
Alguém aí vai me excomungar por ter dado a ficha toda do
filme. E não terá sido assim em todos os meus posts em que li o clima?
Até breve.
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