Envelhecer
tem lá suas vantagens.
Uma
delas é que tornar-se velho é inexorável e você não precisa entrar em crise se
quer ou não quer ficar velho. Querendo ou não você fica.
Outra
vantagem é que você já viveu tanta esperança que, de repente, conclui que no
fundo são quimeras e como tal servem como um “barato” que passa. Enquanto você
está sobre o efeito delas é nirvânico, tântrico, trifânico, birmânico, budânico.
Enfim, fumaça.
Ficar
velho potencializa a procura de lamentos, especialmente agora, com a lacuna
BUSCA em quaisquer merdinhas dessas de tela. Nelas você pode até fazer seu
check up quantas vezes e doenças você estiver supondo estar sendo acometido ou queira inventar.
Não há plano de saúde gratuito e tão amplo como o GoogleMed e nenhum é
portátil, de livre acesso e resposta instantânea sem réplica quanto esta
maravilha do GoogleCare.
E
a seleção da escuta? Essa não tem preço, Mastercard perde feio. Adoro quando
dizem: ele está ficando surdo. O gerúndio aqui é um lenitivo gradual de
decibéis.
E
o observar o gosto refinado das coisas, tanto as ingeridas, quanto as
expelidas? O olhar velho (tanto com os olhos superiores quanto com o olho
inferior) com suas retinas/pregas fatigadas de tanto imaginar ver com o filtro
da experiência que se quer viver.
A
escrita, quando se tem o dom de bulinar as palavras, subvertendo-as,
dominando-as por ter sido tão maltratado por elas ao longo de anos. Cândida
vingança.
Ficar
velho tem suas vantagens.
Em
tempos, como o nosso, em que superfície é conteúdo, envelhecer é um bálsamo. A
gente passa a olhar para tudo dando a exata medida de valor a cada átimo.
A
pressa é inimiga da perfeição. O velho sabe que a perfeição é um cadáver. Para
lá nós vamos. Ele anda manso com a cabeça nas nuvens. O dia em que a senhora de
negro e foice de lâmina longa vier, ele estará descansado.
Aos
velhos, quase sempre, é reservada a melhor vantagem: tornar-se avô, para ser
amado, verdadeiramente. Ninguém experimentará o amor verdadeiro se não viver a
experiência da avosidade.
O
velho pereniza sua ilusão de importância no neto. Acredita que enquanto durar a
infância do neto ele será útil.
Por
último, aqui (naturalmente), o velho tem a vantagem de apaixonar-se
deliberadamente, nem que seja pela sua própria vida. O velho tem uma estória
pregressa a ser contada, não um vazio adiante. Ele tem um patrimônio vivencial,
não um porvir, sabe-se lá em que direções.
O
velho, não importa em que idade que comece a velhice, pode ser mesmo aos trinta
e poucos anos, sabe-se.
E
esta é a vantagem soberana.
Até
breve.
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