Impressionista
Adélia Prado
Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.
Voltei
com gosto ao meu gosto. É bom escrever.
Lembram de que teve época em que eu inventei de publicar livros com
perspectivas de disputar o Nobel de Literatura de 2042 e ir busca-lo em Oslo vestido
como uma libélula?
Sou inseguro, frágil, carente e ávido por palcos. Desde pequeno, culpa
de minha mãe que me levou para concorrer em um concurso de beleza. Deu nisso,
não é por outra razão que durante décadas fiz palestras Brasil a fora, contando
meus causos e achando que isto pudesse servir a alguém.
Hoje não correria o risco em concursos de beleza e palestras não faço
mais.
Quanto à Oslo, estou achando mais fácil tornar-me libélula do que editar
livros e, por eles, ao completar meus noventa anos, ser reconhecido
internacionalmente pelo gigantismo de minha obra.
Alguém me lendo disse que eu não deveria tentar romances, contos,
poesia, minha pegada está em argumento para cinema. Que há poucas ideias
originais para a telona e eu tenho muita sacada para personagens e “cenas”
cinematográficas. Acho que é uma forma delicada de dizer para eu abandonar o projeto de vez ou então, mais provável, que sou um delirante.
Um dos males que a tecnologia disponibiliza e de grátis é a
possibilidade de infelizes debruçarem seus meleguelens em redes sociais e blogs
como este. O que você tem a ver com minhas idiossincrasias?
Gosto de escrever. Escrevo exclusivamente para mim próprio e reside aqui
a minha impertinência: tornar-me universal por isto. De quando em vez releio
alguns de meus posts publicados aqui e me pergunto: como eu posso ser tantos e
de tantas diferentes formas?
O que pode ser mais universal do que a procura de ser?
Nesta altura os anos têm me apontado direções diversas. Respondendo a um
comentário de uma amiga a um de meus posts recente, disse a ela que eu estou
mais próximo de estar abaixo do solo do que de Oslo. Mero posicionamento de duas letrinhas.
Juro que não sei onde vai dar este texto se é que tem que dar em alguma
coisa. Tenho lido tanto ultimamente, por uma especial pressão externa, que
conteúdo é que não me falta para abordar algo de relevância.
Ah, sim! Achei um assunto. Ontem passeava com Totô e Lelê nas cercanias
da nossa casa de Santa Luzia. De repente avistei uma gatinha branca, bem
pequena, saindo arisca e desesperada de dentro da mata.
O desespero do animalzinho aumentou quando minhas duas cachorras,
que nos acompanhavam, ferveu pra cima da infeliz. Gritei e não sei quem ficou
mais paralisado: as cachorras, meus netos ou a gatinha. Mas foi o suficiente
para a felina embrenhar-se novamente na mata e se salvar das garras de Laka e
Barbie.
Acalmado os ânimos, sugeri à Lelê e ao Totô que tentássemos pegar a
gatinha e leva-la para casa. No princípio não houve consenso e prevaleceu a
vontade do melhor preparado para a decisão.
Alguns cortes nas mãos e braço depois, e tendo não acatado a primeira sugestão
de Totô para que acionássemos o Corpo de Bombeiros para fazer o resgate, tendo optado
pela segunda que foi voltar em casa e pegar a peneira da piscina com seu cabo
longo, a façanha foi coroada de êxito.
Virou o assunto do final de semana. Foi batizada por Lelê de Fofinha. Algo
que me vêm de longe me sugere outro nome: Arara.
Face a tantas fake news, que assolam a rede, abaixo video e foto que comprovam a empreita.
Até breve.
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