“Onde está a sabedoria que perdemos no
conhecimento?
Onde
está o conhecimento que perdemos na informação?
(T.S. Eliot)
“Apresse-se devagar.”
(Ítalo Calvino)
No
último fim de semana enviei a inúmeros caros amigos, via WhatsApp, a indicação
para que lessem o livro O cérebro no Mundo Digital, escrito
pela neurocientista americana Maryanne Wolf. (*)
A
autora de mais de 160 publicações científicas desenvolveu uma tese que, na
mensagem enviada, considerei imprescindível conhecer.
“Quando há uma sobrecarga excessiva de
informação, a construção do conhecimento de fundo se torna mais difícil. Por
recebermos tanto input, já não gastamos o tempo necessário para por à prova,
fazer analogias e armazenar a informação recém-chegada, com consequências para
o que sabemos e como estabelecemos inferências.” (Pag.141).
“Esses não são de maneira alguma
pensamentos novos para mim ou para outros. Tanto as mensagens icônicas de
Marshall McLuhan a respeito da influência que as mídias exercem sobre nós,
quanto as exortações de vários filósofos remetem, mais uma vez, à preocupação
original de Sócrates de que a leitura mudaria o pensamento de modo permanente. ‘Se os homens aprenderem isso, o esquecimento
será implantado em suas almas, eles deixarão de exercitar a memória por confiar
naquilo que está escrito, evocando as coisas para a recordação não mais do
interior de si mesmos, mas por meio de sinais externos’.”.(Pag.112)
Marianne
descreve trecho de uma entrevista ao Washington Post dada por uma dos mestres
do gênero fake News: “Honestamente, as
pessoas estão definitivamente mais burras. Elas só ficam passando coisas
adiante. Ninguém checa mais nada. Separar a verdade da ficção leva tempo,
letramento informacional e uma mente aberta, coisas que parecem estar em falta
numa cultura desatenta e polarizada. Gostamos de compartilhar instantaneamente
– e isso nos torna facilmente manipuláveis”.
“Preocupada com a leitura, a questão com
a qual me defronto é se as plataformas internas cuidadosamente construídas
estarão formadas em nossos jovens antes que se voltem automaticamente para a
sua inteligência usual quando se defrontam com um nome ou conceito
desconhecido. Não é que eu prefira as plataformas de conhecimento internas às
externas, quero as duas, mas a interna tem que estar suficientemente formada
antes que a confiança automática nas externas assuma o controle. Somente com
essa sequência no desenvolvimento confio que eles saberão quando não sabem”.
(Pag.106/107).
Qual
será o destino dos livros e poemas recheados de metáforas e analogias, cujos
referentes já não são do senso comum? O que acontecerá se o repertório
compartilhado de alusões de uma cultura – metáforas da Bíblia; mitos e fábulas;
versos de poemas que ficaram na memória; personagens de narrativas – começar a
encolher e for desaparecendo gradualmente?
O
que acontecerá se a língua dos livros deixar de ser adequada ao estilo
cognitivo da cultura – que é rápido, pesadamente visual e artificialmente truncado?
Mudará com a escrita e, com ela, o leitor, o escritor, o editor e a própria
linguagem? Estaríamos testemunhando em nossas diferentes profissões, o começo
de um recuo de formas intelectualmente mais exigentes da linguagem até que –
como a mal fadada cama de Procusto – ela se torne adequada às normas
imperceptivelmente redutoras de uma leitura feita em telas cada vez menores?
Para
quem não sabe, ainda: a mitologia grega descreve Procusto como um bandido que
tinha uma cama com o tamanho exato de seu corpo. Quando hospedava algum
viajante maior do que a cama, costumava decapitá-lo ou amputar-lhe os pés.
Acabou punido com o suplício que ele tinha inventado, quando o herói Teseu o
deitou transversalmente nessa mesma cama e cortou sua cabeça e seus pés.
Se
comparem este post à grande maioria dos outros tantos editados aqui verão a
densidade da escrita. Provavelmente, alguns dos meus parcos leitores, ao
abrirem esta página deixarão de lê-lo. “Textão”,
dirão.
Ganhei
de meu filho há algum tempo o clássico de Emile Zola, Germinal. Vladimir sempre
soube quanto este livro me marcou e por esta razão quis me presentear.
O
livro está bem a minha frente na estante e, zilhões de vezes, penso em relê-lo.
São densas, intensas, profundas e contundentes 556 páginas escritas em fonte
pequena.
Eu
não tenho mais saco. Está fora de questão. Por conseguinte meu texto clama
pelas entrelinhas, pede folego, até meu título reduz a uma única palavra.
Até
breve.
(*)
O cérebro no mundo digital: os desafios da leitura na nossa era/ Maryanne Wolf;
tradução Rodolfo Ilari, Mayumi Ilari. – São Paulo: Contexto, 2019.
Que prazer me deparar com reflexões que vão ao encontro de tudo que tenho pensado. Depois de muito tempo longe do seu blog, ao encontrar Valesca me lembrei de pessoas que eu gostaria de ler e escutar num tempo de tanta babaquice. Sempre bom ter contato com uma sabedoria que vai além da superficialidade.
ResponderExcluirAbraço Agulhô
Serginho
Querido, uma das perdas que sinto com a mudança da Valesca prá Lages é a eventual convivência com os amigos dela, entre eles, naturalmente você. Grande abraço, Serginho. Apareça, cê sabe onde, quando é só dizer.
ExcluirEscrevendo cada vez melhor, chegando facilmente a perfeição. Um abraço.
ResponderExcluirQuerida, faz assim cumigo não, sô! Já é prá lá de difici dá conta do simples, magina tê que chegá nas perfeição. Um dia delirei em chegá à Oslo, hoje o que tem de cierto é que eu vô é prá baixo do Solo.
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