sexta-feira, 30 de agosto de 2019

VERSO




Anne With An E renovada para 3ª temporada pela Netflix e CBC


“A vida sem imaginação seria uma agonia.”
Anne

De novo por pressão especial externa, assisti a todos os capítulos das duas temporadas da série da Netflix, ANNE with “E”. O lançamento da terceira temporada está previsto para o próximo mês.

Baseada no livro “Anne of Green Gables” (L.M. Montgomery), de 1908, a série levanta vários temas e tabus da época - feminismo, adoção, bullying, preconceito e o conceito de “família” são alguns dos assuntos que nos conectam ao mundo de Anne de forma muito leve e cativante.

Anne retrata o amadurecimento de uma garota que enfrenta adversidades e desafios para encontrar seu lugar no mundo e ser amada. Ambientada na ilha de Príncipe Eduardo no final do século XIX, a série acompanha a vida de Anne Shirley, uma jovem órfã que, após uma infância de abusos entre orfanatos e casas de estranhos, é enviada para viver com um casal de irmãos em idade avançada que, na verdade, queria um garoto para ajudar nas atividades da fazenda. Sem coragem de desfazer a troca, os dois acabam recebendo uma garota cheia de imaginação e completamente desajustada para a sociedade do final do século XIX. Com o passar do tempo, a pequena garota de treze anos transforma a vida de seus “pais” e de toda a cidade com seu jeito extrovertido, sua inteligência e imaginação brilhante.

Matéria publicada no Estadão de hoje, da qual tomo a liberdade de retirar alguns fragmentos:
“A cultura está, hoje, sob grande ameaça. Cada vez mais, ela é desprezada, perseguida e, mais ainda, satanizada. Este horror à cultura se torna ainda mais radical no caso da poesia. Ela não é, de fato, uma profissão produtiva – não está, por exemplo, no campo dos espetáculos. Na verdade, não é, sequer, uma profissão. Em um tempo no qual se privilegiam a velocidade, os objetivos claros e os resultados, a poesia – a mais estranha e singular atividade humana – se torna suspeita. Mais do que suspeita: perigosa. 
Neste tempo que não aceita a lentidão, a indefinição e o efêmero, não só a poesia, mas também os poetas vivem sob grande risco. Eles ameaçam os princípios dominantes da produção rápida e dos resultados a todo custo. Eles se tornam, em resumo, um perigo que abala a chamada “nova ordem” que hoje se estabelece no poder. Por isso, talvez nunca tenha sido tão importante refletir a respeito da utilidade da poesia.
A poesia é insubmissa e por isso ameaça tanto.
A poesia resiste e insiste. Quanto mais a destratam e a amaldiçoam, mais ela se fortalece. De onde viria essa incrível resistência? De onde a poesia, em tempos tão inóspitos e mesmo tão antipoéticos, retira tanta força? Apesar da aparente inutilidade, deve haver alguma relação profunda entre a “realidade poética” e a “outra realidade” – isto é, a realidade comum. Algum papel crucial ela representa, ou já teria sido varrida do caminho, enxotada, proibida. Alguma força ameaçadora ela detém, ou já teria sido vencida pelo pragmatismo e pelo utilitarismo.
Para ver através da poesia é preciso, primeiro, abandonar nossos conhecimentos passados e já organizados. Que nos dispamos de nossos preconceitos, de nossos vícios intelectuais, de nossas certezas, pois o poema nos obriga a começar tudo de novo, a retomar o ponto zero. Diante do olhar dos poetas, todos os objetos são novos, o mundo está sempre a renascer. 
Só o olhar poético é capaz de apreender a novidade que se esconde detrás dos objetos conhecidos. Uma onda predatória – do conhecimento, da sensibilidade, do fazer – agita, porém, o mundo de hoje, que parece a cada dia mais guiado pela ideia de destruição. Ao abrir novas maneiras de ver, a poesia descerra caminhos alternativos, alarga o horizonte e ajuda a nos salvar da barbárie. 
Platão dizia que a poesia é inútil, porque o poeta não produz nada. O poeta, para o filósofo, seria um peso morto. Esta ideia se perpetuou e, nos últimos tempos, se agravou. A globalização e o ultraliberalismo nos lançaram no domínio do efêmero. Não temos escolha, parece. Ao descerrar novos olhares e novas posições, a poesia nos abre, ainda assim, a possibilidade de outros destinos. Embora infelizmente a maioria de nós continue a acreditar que a poesia não serve para nada, nunca dela precisamos tanto”.
Ontem escrevi sobre sabiar, verbo meu que construí a partir do pássaro (sabiá) que em tupi quer dizer “aquele que reza muito” e com a intenção de passar a ideia de ação para o encontro de uma sabedoria.
Cada dia em que passo, adoro mais minha velhice.

Até breve. 

3 comentários:

  1. Quem escreve assim, jamais se tornará velho,...imortal sim...

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  2. Como seria sermos nós próprios na eternidade, sem o consolo de podermos, um dia, vir a ser redimidos da obrigação de sermos nós? Não o sabemos, e o fato de nunca virmos a saber representa uma benção. Pois de uma coisa podemos estar certos: seria um inferno esse paraíso da imortalidade. Brigado pelo comentário.

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