A
Arte nos faz suportar a realidade. Especialmente esta que está aí a nos
assaltar o cotidiano. Embora haja muita imaginação para produzir Realidade.
Fui
assistir domingo à Cézanne e Eu, filme dirigido por Danièle Thompson e estrelado
por Guilhaume Gallienne (Paul Cézanne) e Guillaume Canet (Emile Zola).
Cinema,
pintura e literatura juntos nos servindo como um tempo de respiro, de catarse,
de alento. Ou de provocação.
Li
muito ao longo da vida e alguns livros fundaram meu caráter. Germinal,
de Emile Zola, sem dúvida, foi um deles.
Publicado
em 1885, Germinal retrata uma épica revolta de mineiros que se sublevam contra
as condições de trabalho. Cultuado por muito tempo como o romance por
excelência das relações humanas no universo da organização dos trabalhadores, a
obra constitui simultaneamente um painel revelador da lógica patronal no início
do capitalismo industrial.
Paul
Cézanne, considerado “o Deus da pintura” por Matisse e “o pai de todos nós” por
Picasso, nos legou cores e formas lançadas em tela para enlevar o espírito.
Magnânimo.
O
filme busca retratar os contornos da amizade de quarenta anos entre estes dois
gigantes do fim do século XIX. A genialidade de ambos, a sensibilidade à flor
da pele e o amor/ódio presentes na relação dão a dimensão do belo roteiro.
Em
que pese outros ícones da época surgirem de forma secundária na trama, Cézanne
e Zola, são suficientes para nos fazer pensar no amor presente na amizade como elemento
fundamental na produção de algo verdadeiramente extraordinário.
Os
conflitos entre os dois artistas derivados da cobrança recíproca para que um e
outro fossem o que se propunha a ser são passagens de uma riqueza infinda.
Somente alguém que nutre um interesse genuíno pelo outro pode, de fato, nomear-se
como amigo.
O
filme quer isso, pelo menos em mim.
A
cena em que Cézanne interpela Zola colocando-o diante de si mesmo e a forma que
Zola retruca à Cézanne é uma das mais belas do cinema, pelo diálogo em si e
pela maestria na interpretação dos excepcionais atores.
Eu
estava precisando deste filme e agora.
Na
cena Cézanne “acusa” Zola de escrever sobre a realidade, a burguesia, mas que
ele não consegue viver senão das benesses que o sucesso de sua obra lhe
faculta.
Zola
“retruca” Cézanne dizendo que o amigo jamais conseguiria viver da pintura, não
fosse a ajuda financeira do pai a quem o pintor detestava.
Cruel
realidade esta que nos faz abdicar de tantos e caros sonhos e projetos, para
viver uma vida comezinha, menor e, além de tudo, ter retinas fatigadas, coração
diminuto, calor sanguíneo em declínio.
Eu
precisava assistir a este filme e agora.
Até
breve.
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