quarta-feira, 12 de junho de 2019

BIBLIAR





Uma meia-dúzia de três ou quatro amigos sempre me consulta por que eu ainda não editei um livro. Certa vez respondi: “quem sabe aos setenta?”.

Pois é, nunca estive tão próximo de chegar aos setenta como agora. Claro, tudo pode acontecer até lá, mas ressalvadas as maledicências (que estou certo não existirem), aos setenta eu devo chegar.

Confesso que já nutri inúmeras vezes o desejo de me ver em prateleiras de livrarias ou em sebos, mas comichão posto de lado antes que o mesmo virasse corpo no cio.

Vou morrer achando que não tenho jeito pra coisa. Sou preguiçoso para exercícios de folego, tipo duzentas ou trezentas páginas. Há duas semanas não vou a esteiras para enrijecer músculos. Imagine a folhas de papel para drenar meus espíritos.

Portanto, a resposta é não. Ou, tudo bem, por enquanto. Não.

Até porque escrever o quê, sobre o quê, para quê?

Poderia, por exemplo, mergulhar numa análise criteriosa do período que cobri em STALO, o post recente em que me embrenhei selvagem na puslítica nacional pós-guerra.

Ora, pois pois, taí um tema que eu só curto. Num há a menor chance de eu perder tempo mais com esse troço.  Primeiro porque embrulha o estômago, corrói o fígado, dilacera o coração e enfraquece o cérebro.

Não, puslítica tá fora de cogitamentos. Só um post aqui outro ali e, mesmo assim, de stalo.

Um romance. Não. Prefiro vivê-lo a escrever sobre.

Crônicas, xi, um porre!

Contos, quem sabe? É, pode ser. Uma coletânea daqueles que editei aqui enxertada com outros que dormem em gavetas. Não, vale a pena não.

Espera, mas me ocorreu uma ideia que talvez me mobilize até os noventa. Escrever uma bíblia.

De stalo em stalo eu vou preenchendo o absurdo.

Como o personagem de Borges em sua obra O Imortal, na eternidade me colocarei em um buraco qualquer onde estarei por setenta anos. Ou mais.

Escrever pra quê?


Até breve.

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