Ouço
o grito da página com suas entranhas em brancas linhas.
Ela
me convida:
- “Preencha-me,
e me faça encontrar sentido”...
Como
se o sentido de Tudo estivesse em linhas tortas e vagas, permeando conscientes
fugidios, matreiros, escolados e/ou tenebrosos inconscientes inconfessáveis ou
essencialmente marcados por infinito e definitivo mistério.
Ai
de mim, página literalmente em branco porvir!
De
que tintas e cores me restarão letras e sobre que construções de vínculos entre
elas - ainda que poéticos - palavras em frases marcarão genuínos olhares?
Há
muito me perdi em turbilhões. Sexta-feira, ouvi de uma amiga que eu perdi o
veio.
Pode
ter sido, ou entrei por outro onde cabe silêncio, resguardo, cansado de parir
filhos impróprios.
Ninguém
que turva páginas deveria se encontrar, perder-se sempre deverá ser o melhor
caminho.
A
escrita é o maior crime cometido pelo homem contra si mesmo. Sem ela não
cometeríamos tantos desatinos, nem cartas de amor ou ódio, nem contratos
avessos, tratados torpes, leis, sentenças, juízos.
Ah,
os livros! Ah, a Literatura! Instrumentos perversos, repletos de viagens alucinógenas,
construções de olhares em perspectiva fantasmáticos e delirantes.
Deveríamos
todos que escrevem nos autocondenarmos e sair de cena. Mesmo aqueles que deixam
lenitivos, esperança, bonança, como se humanizar-se pela leitura fosse uma
verdade inconteste.
Escrever
é cometer crime hediondo, ler é cumplicidade mórbida.
Nenhuma
entranha de nenhuma página é preenchida se não por horrores, dramas entre Eros
e Tanatos (ou será Thanatos, com esse H de Humano), pulsões contumazes,
erráticas e danosas.
Tudo
isto por um vazio ou tristeza, não sei. Assisti à A Esposa, e à Monsieur &
Madame Adelman. Ambos essa semana, o primeiro no cinema e o segundo na Sky.
Escrever
é gerar procura. Quem quiser viajar, assista aos dois filmes e se perderá
comigo.
Só
assim terei feito mais uma vítima.
Até
breve.
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