Claudinho, ontem pela manhã, trouxe
das compras duas ou três caixas de cervejas. A intenção é de consumi-las todas
ao longo de até o 02.
Perguntou ao Vlad sobre a marca, se
o cunhado, conhecedor de cervejas artesanais, gostava de Petra.
Vlad disse que não conhecia, se eu
ouvi bem.
Já à noite perguntei ao meu genro,
Claudinho, se Petra é Latim. Era mais para zoar com o sujeito que levou minha
filha para Lages com meus netos. Claro que eu sabia, se bem que não com
convicção, Petra é Grego.
- É, Agulhô, é em latinha, mas eu
acho que tem em garrafa também.
Pouco mais tarde Pretinha, minha
filha que o sujeito levou para Lages com meus netos, irmã de Vlad e Bernardo,
meus outros dois filhos, foi quem me perguntou por que eu não escrevo mais.
Acho que é por isto.
Escrevo em Grego e o consumidor
quer em latinha.
Bem já quase meia-noite, tomei um
banho e debrucei sobre o Um Sopro de Vida, de Clarice, a Lispector.
Numa hora qualquer do texto ela
inscreve: “Vou escrever um livro tão fechado que não dará passagem senão para
alguns. Ou talvez eu não escreva nunca mais”.
Tipo do livro Grego. Vou precisar
de uns seis meses para sorvê-lo todo em cada linha.
Minha vida me quer escritor e então
escrevo. Não é por escolha: é íntima ordem de comando.
Não fui eu que escrevi a frase de
cima. É “dita” pelo personagem Autor do livro de Clarice, a quem ela deu sopro
de vida. E, como autor, ele se pergunta: “Eu inventei Ângela porque eu preciso me
inventar?” Ângela, eu acho, é personagem de Autor.
Escrever pode tornar a pessoa
louca. Não se queira.
A primeira frase de cima é do livro
de Clarice.É de Clarice, do Autor (personagem de Clarice(?) ou de Ângela
(personagem de Autor)?
O pior plágio é o que se faz de si
mesmo.
Acordei hoje com tal nostalgia de
ser feliz. Eu nunca fui livre na minha vida inteira. Por dentro eu sempre me
persegui. Eu me tornei intolerável para mim mesma. Vivo numa dualidade dilacerante.
Eu tenho uma liberdade, mas estou presa dentro de mim. Eu queria uma liberdade
olímpica. Mas essa liberdade só é concedida aos seres imateriais. Enquanto eu
tiver corpo ele me submeterá às suas exigências. Vejo a liberdade como uma
forma de beleza e essa beleza me falta.
Acessei o caderno Cultura do
Estadão e lá li um poema:
BARGANHA
O quê? Dar pelo meu ouro
O teu saco de farinha?
Te pergunto, meu tesouro:
Na bundada não vai ninha?
Deixei Pretinha sem resposta, mas
parece que é por isto. Ser imaterial, para ser livre.
Pedra.
Até breve.
Feliz 2019, saúde, e o desejo que nunca tires o olhar do teclado, onde você se tornou único e imbatível. Um abraço , professor.
ResponderExcluirMuito obrigado! Um grande e afetuoso abraço.
ResponderExcluir