segunda-feira, 5 de novembro de 2018

DUCE



Luiz Fernando Veríssimo escreveu em sua crônica de ontem no Estadão: “Eu sou um marginal, na medida em que crônicas são anotações e comentários na margem das notícias, uma espécie de pichação literária, e eu faço crônicas.”.

Eu então, nem marginal sou. Sou para lá de marginal, já que posto meus textos sem a menor responsabilidade. Saí até do facebook, porque aquilo está gerando influência social. Quero insistir na minha insignificância e ganhar com isso o direito à minha solidão.

Só que eu não me emendo contrariando quem tem me pedido para que eu escreva textos leves e lindos.

Eu já tinha resolvido parar e não dizer nada, mas o olhar me assalta. Ontem mesmo, assisti na Sky ao filme: Estou de volta. O enunciado classifica o filme como COMÉDIA. Trata da hipótese e absurda do retorno de Benito Mussolini a Roma, agora nos tempos atuais.

Acho que sei por que não consegui rir em nenhum momento. Vejo muita semelhança entre nós e os italianos, em nossa formação. O filme explicita essa proximidade e eu quero crer que o programador da operadora não fez sem intenção.

“Não fui eu quem inventou o fascismo, eu só o tirei do inconsciente dos italianos.”

Nos meus guardados intelectuais mais íntimos nutro um desejo de que a vida brasileira melhore a partir de 2019. Há sinais importantes nesta direção: tanto no plano das propostas econômicas quanto naquelas de caráter da limpeza das instituições sempre à luz dos preceitos constitucionais.

Por outro lado, a frase de Mussolini acima, estampada impressa no filme, me congelou. Não pelo próprio e nem pela nossa suposta/exagerada versão mais do que tupiniquim. Não temo pelos ditadores, mas pelos seus fanáticos seguidores. Quem cria e sustenta um, são milhões. Daí meu receio.

O que dita o nosso inconsciente coletivo? Que ódio recalcado encerra?

Lembrei-me agora de que no dia da votação do segundo turno levei Tin, um de meus netos, comigo. Ele estava esbanjando o uniforme que trouxe para ele de Portugal da seleção daquele país. Eu estava com uma bermuda também de cor vermelha. Sabem que temi?

Não sei o que se passa na rede, suponho que ela não esteja pacificada. Ouço pessoas próximas, leio matérias em jornais, vejo muito pouco um ou outro noticiário na TV. Escuto e observo.

No filme, Mussolini retorna à tumba, tendo desistido de recompor o seu ideário face aos italianos que encontra.

Não quero crer que estejamos entrando em algo mais grave do que nossas escolhas.

Aqui não há nada de comédia, antes pelo contrário.



Até breve.


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