Luiz
Fernando Veríssimo escreveu em sua crônica de ontem no Estadão: “Eu
sou um marginal, na medida em que crônicas são anotações e comentários na
margem das notícias, uma espécie de pichação literária, e eu faço crônicas.”.
Eu
então, nem marginal sou. Sou para lá de marginal, já que posto meus textos sem
a menor responsabilidade. Saí até do facebook, porque aquilo está gerando
influência social. Quero insistir na minha insignificância e ganhar com isso o
direito à minha solidão.
Só
que eu não me emendo contrariando quem tem me pedido para que eu escreva textos
leves e lindos.
Eu
já tinha resolvido parar e não dizer nada, mas o olhar me assalta. Ontem mesmo,
assisti na Sky ao filme: Estou de volta.
O enunciado classifica o filme como COMÉDIA. Trata da hipótese e absurda do retorno
de Benito Mussolini a Roma, agora nos tempos atuais.
Acho
que sei por que não consegui rir em nenhum momento. Vejo muita semelhança entre
nós e os italianos, em nossa formação. O filme explicita essa proximidade e eu
quero crer que o programador da operadora não fez sem intenção.
“Não fui eu quem inventou o fascismo, eu
só o tirei do inconsciente dos italianos.”
Nos
meus guardados intelectuais mais íntimos nutro um desejo de que a vida
brasileira melhore a partir de 2019. Há sinais importantes nesta direção: tanto
no plano das propostas econômicas quanto naquelas de caráter da limpeza das
instituições sempre à luz dos preceitos constitucionais.
Por
outro lado, a frase de Mussolini acima, estampada impressa no filme, me
congelou. Não pelo próprio e nem pela nossa suposta/exagerada versão mais do
que tupiniquim. Não temo pelos ditadores, mas pelos seus fanáticos seguidores.
Quem cria e sustenta um, são milhões. Daí meu receio.
O
que dita o nosso inconsciente coletivo? Que ódio recalcado encerra?
Lembrei-me
agora de que no dia da votação do segundo turno levei Tin, um de meus netos,
comigo. Ele estava esbanjando o uniforme que trouxe para ele de Portugal da
seleção daquele país. Eu estava com uma bermuda também de cor vermelha. Sabem
que temi?
Não
sei o que se passa na rede, suponho que ela não esteja pacificada. Ouço pessoas
próximas, leio matérias em jornais, vejo muito pouco um ou outro noticiário na
TV. Escuto e observo.
No
filme, Mussolini retorna à tumba, tendo desistido de recompor o seu ideário
face aos italianos que encontra.
Não
quero crer que estejamos entrando em algo mais grave do que nossas escolhas.
Aqui
não há nada de comédia, antes pelo contrário.
Até
breve.
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