Há,
provavelmente, outras verdades irrefutáveis além de que no futuro todos nós
morreremos.
Tenho
para mim que entre estas, está a de que é inerente à Política a dissonância
entre discurso e prática.
Na
Política, enquanto o discurso vai ao encontro das demandas, a prática vai,
muitas das vezes, de encontro às demandas e ao encontro de interesses.
Não
tenho ainda cem anos, portanto, acredito poder viver mais. Não é de todo uma
verdade irrefutável, talvez um desejo caso esse corpo, coração e mente seguirem
com essa higidez presente.
Ao
longo do período passado e aqueles que estão por vir, não acredito que estas
duas verdades deixem de ser irrefutáveis. A de que eu vou morrer e a de que na
Política tudo continuará como dantes no quartel de Abrantes.
Ou
seja: seremos iludidos pelo discurso presente e nos indignaremos pelas práticas
futuras.
Gosto
também da ideia (me divirto com certa amargura) de que na Política há lados
movidos por propósitos ideológicos. Aqueles que se colocam em uma perspectiva
progressista, mais à direita e outros mais conservadores à esquerda. Uns que
defendem a livre iniciativa (à direita) e outros a intervenção do estado na
economia (à esquerda).
A
melhor é que alguns defendem a social democracia e outros os trabalhadores. Há
ainda os que defendem as minorias, o meio ambiente.
Há aqueles que lutam pelos cambaus.
Sim,
o discurso é muito bem aparelhado quanto mais profunda for a ignorância e
ingenuidade dos que elegem, aqueles que clamam por alguém que governe suas
próprias e desafortunadas vidinhas.
Na
prática aqui como acolá, os interesses comandam o espetáculo. Mais para o
hemisfério sul, território das republiquetas, a coisa vinha ficando
pornográfica. Os últimos mandatários, em todos os níveis (federal, estadual e
municipal) pilharam os cofres, zombaram a achincalharam seus ingênuos
eleitores.
A
coisa somou bilhões.
Nunca
na história deste paiseco se roubou tanto.
A
tragicomédia atual tem um enredo mais assustador. A briga está vendendo a ideia
de que o mal é o passado e o contrário do mal é o não sabido. Quem está
escolhendo o faz na perspectiva daquele que melhor pode derrotar o que mais
detesta.
Enquanto
isto o sol brilha nas riquezas naturais, na docilidade do povo primitivo, na
idiotia dos intelectuais, na falência da cultura, na conveniência das elites.
Até
breve.