domingo, 26 de agosto de 2018

VÁCUOS




Outro dia estive pensando. Sério, apesar de não ser mais necessário, eu consegui alguns lampejos originais.

Eu estava só, tinha dado uma pausa na leitura de um livro e, num viés de vazio, me dei conta que eu estava por elaborar um pensamento.

Ocupei-me. Deixei que acontecesse, não resisti. Abdiquei-me completamente de recorrer ao Google para me dar conta, sozinho, daquilo que formulava.

Claro que eu tenho presente que seja uma tolice uma vez que aquilo pelo que me propunha a pensar, aliás como tudo o mais, já está pensado e catalogado.

Formule qualquer questão, digite lacuna googliana e prepare-se: páginas e mais páginas para você viajar em extensão e profundidade que lhe aprouver.

Resisti, contudo.

Eu pensei, acreditem.

Qual o melhor itinerário para eu ir ao consultório de meu médico oftalmologista? Era a questão que me propus investigar. Em que pese a dificuldade, em face de perda da prática em pensar, consegui articular algumas rotas alternativas.

Quando deu a hora para eu me dirigir à consulta, acessei UBER e, três minutos depois, eu estava entrando no carro.

Lembro que o motorista me perguntou se eu tinha preferência de itinerário.

- Vá pelo que tiver menos trânsito...

Foi o que eu disse.



Até breve.


terça-feira, 21 de agosto de 2018

ORIFICIOS




Estou, desde quinta-feira, em João Pessoa visitando Bernardo e Alessandra, sua namorada. Namorada do meu filho, não de João Pessoa, para ser bem claro.

Na sexta fizemos um programa de índio: fomos ao encontro da natureza.

Exuberante, diga-se de passagem!

Estivemos em reserva da FUNAI em Barra do Rio Camaratuba, entre as cidades de Mataraca e Baía da Paixão, território da tribo Potiguara, a menos de 100km de JP.

À beira dessa maravilha (foto) vivem, em condições primitivas, Ronaldo, sua esposa Mariana e o filinho deles, Júlio.

Ela preparou um caldo de camarões, cozido - pasmem - com coco, uma das minhas paixões.

Pois foi Mariana que nos brindou com a receita para a preparação do prato dos deuses mais primitivos.
Só que ocorreu à partir daí um fato relevante de choque cultural. Deu-se o seguinte: Mariana fez também um pastel de queijo, e, perguntada por Alessandra porque ela não fazia o pastel de camarão, ela respondeu que fazia e se colocou a nos explicar como.

A coisa ia bem até que já no final da aula de gastronomia divina Mariana disse: “Eu deixo o óleo esquentar bastante, coloco o pastel com recheio seco, e quando ele desgruda do cu da panela eu viro ele”.

Eu, chocado: “ A senhora pode repetir essa parte?”
“Pois é, eu espero ele desgrudar do cuzinho da panela e viro...”

Não sei como suportei tamanha descoberta.



terça-feira, 7 de agosto de 2018

QUIMERAS






Hoje, pela manhã, tive uma ideia. É raro, mas, ás vezes, acontece.

Se acolhessem minhas ideias, ainda que raras e rasas, não estaríamos aqui. Estaríamos em outro lugar, estou certo.

A ideia é a seguinte, até que eu tenha outra que, igualmente, não será acatada.

Cada candidato à Presidência da República teria que, uma vez aprovada à sua candidatura, das 21:00h às 22:00h, em cadeia nacional de TV, diante do Congresso Nacional presidido pelo presidente do STF, apresentar a sua visão dos principais desafios colocados ao país no momento e os planos e meios para a superação dos mesmos.

Ao longo da campanha à Presidência o candidato poderia fazer ajustes que, sobre seu juízo se fizessem necessários, mas no dia 31 de dezembro o candidato eleito teria que apresentar novamente ao Congresso Nacional presidido pelo presidente do STF sua versão final de seu programa de governo.

Esta apresentação serviria no futuro como elemento fundamental para o acompanhamento do governo, cabendo ao presidente eleito a responsabilidade de prestar contas, durante o mandato, dentro do mesmo formato quando da apresentação de seus planos.

Assim, as instituições centrais da governança teriam a visão objetiva e clara dos planos, bem como toda a sociedade estaria informada e em condições de debater e sancionar pelo voto o plano que a seu juízo seria o mais apropriado para a realidade.

O país precisa de um plano, um congresso, um poder judiciário e um povo para realiza-lo. O presidente apenas o seguirá.

Assisti, no Brasil, a nove conferências do pensador francês Alain Badiou. Depois que ele terminou a última, aproximei-me dele e fiz uma pergunta que havia formulado. Uma pergunta que nem me lembro de mais qual, sei que era um enrosco.

Ele, no alto de sua altura e de sua privilegiada inteligência, respondeu até com  certo desdém.

- “Meu caro, a vida apresenta-se travestida de complexidade, mas continua simples”.

Pois é.


Até breve.