Fui acometido entre os oito e os doze
anos de idade (de maneira mais intensa, eu acho) por algo que me consumia sem
saciar, que me tirou de todos os outros olhares e só queria que eu vivesse para
ela.
Todos os meus pés descalços que
andaram por ruas, também fugiram para gramados batidos de terra em terrenos
baldios, campinhos de araques, ruas e ladeiras de pedra Pé de Moleque. Deixaram
marcas indeléveis de dores e dores pelos tampos dos dedos ensanguentados
cobertos de terra. Como herança ficaram unhas encravadas (dos dedões) porque
não tiveram nunca oportunidade de crescer.
No dia seguinte eu estava lá à caça
dela para correr-lhe atrás. Em que pesem as circunstâncias da época
especialmente de minha zelosa mãe que me tentava impedir de todas as formas que
eu fosse dragado pela paixão.
Lembro apenas que entre os
instrumentos de repressão havia o de me colocar vestidos de minhas irmãs para
que eu não evadisse. Perdi aí a grande oportunidade de ser mais doce.
Desvencilhei-me de tudo e caí
apaixonado, intensa e desesperadamente. Passava horas nas ruas, procurando
minhas turmas para jogar todas as peladas que pudesse haver no bairro.
Jogava bem, sei por que observava ao
redor outros meninos comentarem ou mesmo adultos e sei deles porque o pé
esquerdo na bola, um olho no gol e outro na iminente aproximação de minha
querida mãe. Ela nunca conseguiu me pegar.
Ao final das tardes, início de noite,
exausto ia embora por força de senha que minhas irmãs me levavam: “Mamãe vai te
matar!”.
Ontem recebi, via
WhatsApp, foto do Tim (um de meus netinhos) fazendo teste de pontaria com uma
bola a ser arremessada em buraco da parede de uma casa em Carmo da Mata, cidade
natal de seu pai, meu genro de quem recebi essa preciosidade.
Claudio disse, na
mensagem, que se recordou de sua infância e que os buracos da parede variam de
diâmetro o que aumenta ou reduz o grau de dificuldade para acertá-los.
Poder viver esses
legados me inunda o coração de alegria.
Tim, são muitos os
buracos dessa Vida.
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