Recebi
hoje uma provocação dilacerante.
O
que é amor intenso?
De
onde vem a ideia de alguém que, por cargas d’água que sejam, possa acreditar
que eu tenha algo a dizer sobre.
Fosse
poeta, comporia, porque a poesia pode tudo.
Fosse
escritor, narraria, no plano do intelecto tudo racionalizaria ainda que em
romance, ficção mesmo que absurda.
Fosse
filósofo, deliraria, viajando na maionese.
Ou
fosse eu, quem sou, um sujeito qualquer que não consegue viver sem estar na
condição proposta pela questão formulada.
Eu
sei lá o que é isto. Eu só sei que, em não sabendo, sinto. E de tal sorte fundo
que tenho para mim que só pode ser da minha natureza, disso que suponho, andam
tentando dizer de humano.
A
coisa toma conta assim dos pensamentos, das interpretações, dessas faculdades
todas, mas é no estômago, creio, que ela se dá por inteiro.
Visceralmente
quando na ausência, uns trem que dizem nomeado só em português não lusitano:
saudade.
A
falta do ser objeto dói. Outro trem que para você explicar tem que recorrer à
poesia, à prosa, à filosofia. Melhor não. Sentir, que é de bão.
Na
presença, aí é que o bicho cresce. Começa pela via dos olhos, dão uns
estremecimentos das musculaturas, uns tremeleques, uns incômodos, umas
ardências, que eu até ousaria dizer de uma gostosura assim indizível.
Aí
se se põem as mãos, meus deuses, elétrons puros e incandescentes. Mãos nas
mãos, mãos nos cabelos, no rosto e aí imagine meu desavisado leitor, imagine
por onde andarão essas mãos todas e com que brandura, cuidado e acuidade.
Quando
a boca é convidada, caramba (!), proferir palavras alvoraçantes, dessas que
pelo som embalam. Os lábios em lábios, em rostos, em pescoços, em tantos
quantos forem os sentires, os pedires em gemidos quase que de sempre.
Depois,
ou não necessariamente nessa ordem, o estômago. Deve derivar daí a ideia de que
a tradução se dá conta: “Eu quero te comer!”.
Apropriar-se
do outro, engoli-lo, possuí-lo, toma-lo para si, antropofagicamente. Comer-se
do outro.
Daí
em diante é tudo que se deve mesmo proibir desde sempre. Perigo imanente de
sentir a maior expressão do que é, essencialmente, humano: o prazer.
Assim:
inteiro, entregue, fundo, de propósito, intenso.
A
Psicanálise nomeia como pulsão.
De
vida.
Até breve.
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