O quê clamam, ou por quê
clamam, ou porque clamam estas mulheres?
A
foto “roubada” do Estadão registra um momento das manifestações ocorridas na
semana passada. Mas ela poderia estar estampada em todos os lugares, vinte e
quatro horas por dia, há séculos e por séculos.
Penso
que clamam o direito à vida, ao afeto, à compreensão, ao carinho, ao respeito.
Penso
que clamam pela atenção aos seus filhos, à sua sexualidade, ao seu corpo
desnudo, pela sua opção de ser ou não ser o que bem lhe aprouver.
Penso
que clamam porque estão esgotadas há milênios de serem vilipendiadas,
enxovalhadas, brutalizadas.
Penso
que a Vida, entendida como fundamento civilizatório, clama por um basta.
A
Vida enquanto conduta social, prática do cotidiano, a vida mais comezinha
vivida em todos os lugares, lares, escritórios, lojas de comércio, estádios de
futebol, casas noturnas, ruas, praças, avenidas, estradas.
Onde
houver uma mulher. Basta!
Por
que desaguar sobre ela a incapacidade manifesta de todas as maneiras, meios,
formas, intensidades, veladas ou explícitas? Por que fazê-la depositária da
incompetência de ser parceiro, provedor, protetor, amante?
Por
que odiá-la?
Por
que traí-la?
Por
que mata-la?
A
violência é atributo do másculo, da besta caçadora, do selvagem, do
descivilizado.
O
que ele ataca, o que ele destrói, o que ele denigre é muito mais do que um
corpo com uma racha entre as pernas, diferente do que tem entre as suas, um
pêndulo.
Um
pêndulo simbólico que marca uma história de violência concreta.
Basta!
É
passada a hora de, enquanto sujeitos do masculino, civilizarmo-nos. Domar esta
troglodita expressão da força quase sempre desigual perante o feminino.
Como
na foto sugere, é preciso abrir todos os semáforos, sinais, faróis. É preciso
deixar que passem as mulheres. É preciso deixa-las irem, leves, soltas, livres,
inteiras. É imperioso permiti-las.
Sob
pena de, qualquer hora dessas, decidirem não gerarem mais filh(o)s. Para
explicitarem, e de uma vez por todas, seu desatino.