quinta-feira, 23 de novembro de 2017

ABANDONO





Horóscopo para hoje:

“Há coisas que só você entende e que não seria adequado você tentar explicar sem prestar atenção a que tipo de pessoa você se dirige, porque para muitas delas suas visões parecem sem pé nem cabeça. Discernimento”.

Seguinte: no pacote de tensões talvez uma, entre as de maior expressão, seja a do corpo, especialmente do corpo feminino. Nas passeatas, mulheres flamam cartazes de que seu corpo não pertence ao Estado.

Lutam para que tenham a soberania de como usá-los e, inclusive, para a procriação, santo privilégio. O direito de interromper uma gravidez indesejada é um dos temas mais controversos de toda a história recente para que a mulher possa sentir-se integralmente livre.

É muito recente o advento da pílula. Durante séculos a mulher foi vitimada trazendo consequências as mais perversas para si e para o fruto de seu ventre.

O direito à Vida deve ser preservado como universal. O direito a uma Vida digna dos seres gerados deve ser garantido por aqueles que os conceberam. A imputação de responsabilidade não deve recair isoladamente nem sobre a mulher e nem sobre o homem, mas integralmente sobre ambos.

Não há aborto exclusivamente da mulher. Nem do ser vivo. Jamais do Ser Humano. O ser vivo gerado pela via do coito é um fenômeno divino, a ciência trouxe a ausência do coito, mas não aboliu a imprescindível necessidade da presença  da maravilha química de dois seres, um masculino e outro feminino.

O Ser Humano só o é na presença da função materna e da função paterna. Não há sujeito íntegro na ausência de uma ou de outra. O Ser Humano, como produto da cultura, jamais prescindirá de uma ou outra. Pode ser até que em algumas culturas essas funções se alternem entre o homem e a mulher e, hoje no extraordinário mundo novo, entre casais homoafetivos que se completam nas complexas funções.

Fui provocado por uma querida amiga a trazer este tema a post. Longe de mim a capacidade de fazê-lo, assumir a tarefa como demonstração de carinho e respeito à demanda, mas com ressalva de que minhas colocações são de leigo e de uma superficialidade perigosa.

De qualquer forma gostei de pensar a respeito, especialmente pela imensa preocupação que sempre tive no lugar de pai e agora de avô.

Assim, sigo.

A expressão “gravidez indesejada” para mim é suficiente para determinar o martírio que pode vir imposto ao ser que nasce. Como fruto de desejo já é tão extraordinariamente difícil desenvolver uma pessoalidade, sem ele, mais do que sem, negando-o, é então avassalador.

O aborto não é uma questão da mulher exclusivamente e nem uma questão meramente moral, jurídica, penal, religiosa ou política. O aborto não aqui restrito ao impedimento à Vida, mas sobretudo à Vida digna, é uma questão que deveria responsabilizar em todos os aspectos e de todas as naturezas igualmente à ambos os seres da concepção.


A ausência da função paterna é tão onerosa ao ser que nasce quanto a imputação (seja de que natureza for ) à mulher de gerar uma Vida que não tenha sido fruto de seu mais intenso desejo.