Fui, ontem, assistir à estreia do
terceiro e último filme do brasileiro Selton Mello. Antes ele tinha rodado "Feliz Natal" (2008) e
"O palhaço" (2011).
Além da direção Selton assina, em
conjunto com Marcelo Vindicatto, o roteiro baseado no romance Um Pai de
Cinema, escrito pelo chileno Antonio
Skármeta (que também atua no filme assim como o próprio Selton), o mesmo autor
de o Carteiro e o Poeta.
São
vários os filmes de minha vida, afinal sessenta e cinco anos me obrigam a
registrar inúmeros roteiros em todos os estilos. E é no cinema que eu vejo
transbordar todos os momentos inesquecíveis do meu drama, da minha comédia, do
meu romance, da minha epopeia.
O filme
de Selton me faz negar, deliberadamente, uma das falas dele, enquanto
personagem, de que “cinema é um lugar em
que se perde duas horas das nossas vidas”.
A tela
inteira, tanto quanto pode ser, acolhe imagens de nosso inverno sulista, numa
fotografia deslumbrante com tomadas de cena que mais parecem quadros de um
pintor iluminado, arrebatadas por uma trilha sonora que invadem nossos ouvidos
e forçam que lágrimas brotem de nossos olhos.
É assim o
filme: arrebatador, poesia pura na veia. "É
um filme com uma narrativa cheia de candura, um filme terno, que faz sonhar e
te devolve uma pessoa melhor na saída do cinema, e isso não é pouca
coisa", disse Selton em entrevista.
Para
confirmar que “a beleza salvará o mundo”
a fita traz as extraordinárias atrizes Ondina
Clais (divina), Bruna Linzmeyer (maravilhosa), Beatriz Arantes
(estonteante) e o charme intenso de Johnny Massaro, Vincent Cassel, Selton Mello, ingredientes indispensáveis para
alimentar os sonhos a que o cinema nos remete.
O roteiro
carregado de citações poéticas e filosóficas, a filmografia que expõe inúmeras
referências ao próprio cinema, nos embala em uma viagem deliciosa, intensa e
mais do que reflexiva.
Retrata
uma época, com matizes específicos de uma região do país, um tempo em que
afeto, honra, segredo, mistério, ainda faziam parte de nossas vidas. Foi aqui
também que o filme me fisgou. Quanto de humanidade se perdeu ao longo dos
nossos últimos anos.
Concordo
com o que disse Selton, em entrevista: "O
público merece um filme assim nos dias de hoje. São dias muito estranhos, não
só no Brasil, no mundo todo".
Minha
estranheza, para não dizer angústia, está na parte que não gostei do filme. Era
a estreia do filme e para a sessão que assistimos ontem compareceram, além de
nós, uma dúzia de espectadores.
Dizem que por força da concorrência
com as estreias simultâneas de Dunkirk, Baby Driver e Planeta do Macacos.
Muito estranho.
Até breve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário