sexta-feira, 4 de agosto de 2017

FOTOGRAMA




Fui, ontem, assistir à estreia do terceiro e último filme do brasileiro Selton Mello. Antes ele tinha rodado "Feliz Natal" (2008) e "O palhaço" (2011).

Além da direção Selton assina, em conjunto com Marcelo Vindicatto, o roteiro baseado no romance Um Pai de Cinema, escrito pelo chileno Antonio Skármeta (que também atua no filme assim como o próprio Selton), o mesmo autor de o Carteiro e o Poeta.

São vários os filmes de minha vida, afinal sessenta e cinco anos me obrigam a registrar inúmeros roteiros em todos os estilos. E é no cinema que eu vejo transbordar todos os momentos inesquecíveis do meu drama, da minha comédia, do meu romance, da minha epopeia.

O filme de Selton me faz negar, deliberadamente, uma das falas dele, enquanto personagem, de que “cinema é um lugar em que se perde duas horas das nossas vidas”.

A tela inteira, tanto quanto pode ser, acolhe imagens de nosso inverno sulista, numa fotografia deslumbrante com tomadas de cena que mais parecem quadros de um pintor iluminado, arrebatadas por uma trilha sonora que invadem nossos ouvidos e forçam que lágrimas brotem de nossos olhos.

É assim o filme: arrebatador, poesia pura na veia. "É um filme com uma narrativa cheia de candura, um filme terno, que faz sonhar e te devolve uma pessoa melhor na saída do cinema, e isso não é pouca coisa", disse Selton em entrevista.

Para confirmar que “a beleza salvará o mundo” a fita traz as extraordinárias atrizes Ondina Clais (divina), Bruna Linzmeyer (maravilhosa), Beatriz Arantes (estonteante) e o charme intenso de Johnny Massaro,  Vincent CasselSelton Mello, ingredientes indispensáveis para alimentar os sonhos a que o cinema nos remete.

O roteiro carregado de citações poéticas e filosóficas, a filmografia que expõe inúmeras referências ao próprio cinema, nos embala em uma viagem deliciosa, intensa e mais do que reflexiva.

Retrata uma época, com matizes específicos de uma região do país, um tempo em que afeto, honra, segredo, mistério, ainda faziam parte de nossas vidas. Foi aqui também que o filme me fisgou. Quanto de humanidade se perdeu ao longo dos nossos últimos anos.

Concordo com o que disse Selton, em entrevista: "O público merece um filme assim nos dias de hoje. São dias muito estranhos, não só no Brasil, no mundo todo".

Minha estranheza, para não dizer angústia, está na parte que não gostei do filme. Era a estreia do filme e para a sessão que assistimos ontem compareceram, além de nós, uma dúzia de espectadores.

Dizem que por força da concorrência com as estreias simultâneas de Dunkirk, Baby Driver e Planeta do Macacos.

Muito estranho.


Até breve.