quinta-feira, 11 de maio de 2017

EXPERT



“O importante é o principal, o resto é secundário”. Lula usou esta frase no depoimento – de um amigo metalúrgico – para dizer como deveríamos tratar o processo.

E o principal, para mim, reside no que não foi dito.

A questão da propriedade do tríplex é controversa e, como se defende Lula, não há escritura lavrada em cartório que ateste de forma inquestionável a propriedade. Podemos considerar a hipótese (em minha opinião mais provável) de que houve sim a negociação com a construtora como pagamento de propina, mas Lula disse que não gostou de “500 coisas muito ruins” e que se ele tivesse que colocar um elevador no tríplex teria pedido para colocar no apartamento onde reside há dezoito anos.

A veracidade ou não da propriedade me parece secundária, ainda que nos meandros do processo existam documentos (a recusa da compra somente em 2015, a Nota expedida pelo Instituto Lula, e-mails internos da construtora tratando das demandas da “madame”, entre outros) que atestam  o encaminhamento da negociação entre Lula e/ou Dona Mariza com o presidente da construtora.

O tríplex é frágil para incriminar Lula.

No entanto, a estratégia brilhantemente conduzida pelos advogados de defesa, buscou forçar o juiz a restringir o depoimento a fatos relacionados exclusivamente à questão da propriedade ou não do apartamento. Diversas vezes o advogado, que atuou também para desestabilizar Moro, fez apartes conclamando que o juiz se ativesse aos termos do processo em julgamento.

E por quê?

Para que o principal não emergisse. Moro seguiu uma linha, em minha opinião sutil, de que Lula teria participação decisiva na composição da diretoria da Petrobras, do Presidente e de alguns diretores da empresa, especialmente Duque.

Moro irritou a bancada de defesa quando insistiu, várias vezes, na solicitação de que Lula explicasse como se deu a escolha dos diretores hoje condenados.

Moro irritou mais ainda quando consultou Lula sobre as características que, enquanto presidente da república escolhia os seus colaboradores.

Esta me parece a questão central e determinante neste e nos demais processos em que o senhor ex-presidente é réu.

A defesa recomendou ao cliente que não respondesse a nenhuma pergunta relacionada em que pese, um dos advogados da sessão (o mais sênior) ter posicionado veemente em defesa do juiz de que era pertinente às perguntas uma vez que ao juiz é dado o direito de inquirir o reu para saber de traços do caráter do mesmo.

E nisso Lula incorreu em um escorregão fatal. Ele havia dito que nunca conversava com diretores da Petrobrás e em seguida, provocado por Moro em outra questão, disse que havia pedido ao Vacari para agendar um encontro com Duque, encontro este que ocorreu em um hangar do aeroporto de Congonhas.

Lula talvez não saiba mesmo quanto roubaram, ele me pareceu assustado quando perguntou ao juiz: “Quanto mesmo que Barusco roubou?” Duzentos milhões de reais, respondeu Moro.

Dentro deste contexto Lula disse, referindo-se à Barusco, a frase que julgo PRINCIPAL do depoimento de ontem:

“Um ladrão assim é tão esperto que só se sabe se for delatado.”

Outra hipótese, a mais ingênua, é de que Lula não sabia do que ocorria em sua casa, nem no Instituto, nem no Partido, nem na Petrobras...

Outra hipótese, a menos ingênua, é de Lula não sabia do que ocorria em sua casa, nem no Insituto, nem no Partido, nem na Petrobras...



Até breve.

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