Por volta das duas horas da
madrugada fui dormir depois de assistir, com atenção, às gravações em vídeo de
todo o depoimento do ex-presidente Lula ao Juiz Sérgio Moro. Algo perto de
cinco horas de intenso debate e embate.
Convido à reflexão a partir de
alguns trechos da fala, inicialmente das declarações finais do senhor
ex-presidente (tratamento que o juiz adotou ao longo de todo o depoimento,
sancionando inclusive membro do MP que tratava sua excelência por “você”).
Permito-me extrair da fala do
acusado trechos fora da ordem em que eles foram declarados, a fim de compor
minha abordagem.
Lula, desde sempre se vê como um
predestinado e se cobra por isto. “Quando me
candidatei à presidente sabia que tinha um compromisso de fé. Se eu errasse
nunca mais a classe trabalhadora elegeria alguém de baixo.”
Lula queixa da falta de respeito
dos acusadores e considera que está sendo vítima de um massacre. “Imperdoável o processo de perseguição,
confesso que eu espero que tivessem mais respeito por um homem que deu à este
país a dignidade que ele não tinha há muito tempo.” “Massacrar o cidadão, ele
tem que pagar o preço por existir, esse cidadão cometeu o erro de provar que
este país pode dar certo.”
Lula aponta a imprensa como a
grande julgadora de todo o processo. “De
março de 2014 prá cá foram 25 capas da Isto É, criando um monstro. 19 capas de
Veja e da época 11. A Folha de São Paulo publicou 298 matérias negativas e 40
positivas, O Globo 530 negativas e 8 positivas, e o Estadão 318 matérias
negativas e apenas 2 positivas. Somente no Jornal Nacional foram 18 horas em 12
meses.”
Lula se vê diante de um julgamento
político sem base de sustentação em provas comprobatórias. “Desconhecendo a política fizeram um power point, porque já tinha a
tese anterior de que o PT era uma organização criminosa que o Lula, por ser o
presidente, era o chefe e que, portanto, Lula montou o governo para roubar.” “É
uma tese eminentemente política.” “Pelas perguntas que vocês me fizeram(dirigindo-se
aos membros presentes do MP) o Dr. Moro
nem deveria ter aceito esta acusação.” “Quero que parem com ilações e digam
qual o crime que eu cometi.”
Lula se diz respeitador das leis e
que foi quem mais trabalhou para criar as condições para o desenvolvimento da
justiça no país. “Fui presidente durante
oito anos e respeitei as leis mais que qualquer outro, fiz mais leis que
qualquer um.”
Lula, em suas declarações finais,
vaticina algo com o qual devemos nos preocupar. “O comprometimento da justiça e o comprometimento da acusação com a
imprensa está levando a um impasse. Eles estão com dificuldade de saber: quando
isto acabar, e se esse tal de Lula for inocente?”
Lula, em tom grave, alerta ao juiz.
“Doutor, eu vou lhe avisar uma coisa.
Estes mesmos que me atacam hoje se tiverem sinais de que eu serei absolvido,
prepare-se, porque os ataques ao senhor vão ser muito mais fortes do que eles
fazem até aos ministros da Suprema Corte.”
Penso e tenho dito ser este o
grande nó histórico. Como vamos fazer a passagem pós-desfecho judicial? Os
fatos em si, mesmo que translúcidos aos olhos de qualquer análise probatória
não serão suficientes para pacificar toda a sociedade, independentemente do
veredicto.
Não há a hipótese, para milhões de
brasileiros que Lula não seja preso. Não há a hipótese, para milhões de outros
brasileiros que Lula seja preso.
No próximo post abordo minhas
observações sobre a parte central do depoimento.
Até breve.
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