quinta-feira, 11 de maio de 2017

CLIMAX



Por volta das duas horas da madrugada fui dormir depois de assistir, com atenção, às gravações em vídeo de todo o depoimento do ex-presidente Lula ao Juiz Sérgio Moro. Algo perto de cinco horas de intenso debate e embate.

Convido à reflexão a partir de alguns trechos da fala, inicialmente das declarações finais do senhor ex-presidente (tratamento que o juiz adotou ao longo de todo o depoimento, sancionando inclusive membro do MP que tratava sua excelência por “você”).

Permito-me extrair da fala do acusado trechos fora da ordem em que eles foram declarados, a fim de compor minha abordagem.

Lula, desde sempre se vê como um predestinado e se cobra por isto. “Quando me candidatei à presidente sabia que tinha um compromisso de fé. Se eu errasse nunca mais a classe trabalhadora elegeria alguém de baixo.”

Lula queixa da falta de respeito dos acusadores e considera que está sendo vítima de um massacre. “Imperdoável o processo de perseguição, confesso que eu espero que tivessem mais respeito por um homem que deu à este país a dignidade que ele não tinha há muito tempo.” “Massacrar o cidadão, ele tem que pagar o preço por existir, esse cidadão cometeu o erro de provar que este país pode dar certo.”

Lula aponta a imprensa como a grande julgadora de todo o processo. “De março de 2014 prá cá foram 25 capas da Isto É, criando um monstro. 19 capas de Veja e da época 11. A Folha de São Paulo publicou 298 matérias negativas e 40 positivas, O Globo 530 negativas e 8 positivas, e o Estadão 318 matérias negativas e apenas 2 positivas. Somente no Jornal Nacional foram 18 horas em 12 meses.”

Lula se vê diante de um julgamento político sem base de sustentação em provas comprobatórias. “Desconhecendo a política fizeram um power point, porque já tinha a tese anterior de que o PT era uma organização criminosa que o Lula, por ser o presidente, era o chefe e que, portanto, Lula montou o governo para roubar.” “É uma tese eminentemente política.” “Pelas perguntas que vocês me fizeram(dirigindo-se aos membros presentes do MP) o Dr. Moro nem deveria ter aceito esta acusação.” “Quero que parem com ilações e digam qual o crime que eu cometi.”

Lula se diz respeitador das leis e que foi quem mais trabalhou para criar as condições para o desenvolvimento da justiça no país. “Fui presidente durante oito anos e respeitei as leis mais que qualquer outro, fiz mais leis que qualquer um.”

Lula, em suas declarações finais, vaticina algo com o qual devemos nos preocupar. “O comprometimento da justiça e o comprometimento da acusação com a imprensa está levando a um impasse. Eles estão com dificuldade de saber: quando isto acabar, e se esse tal de Lula for inocente?”

Lula, em tom grave, alerta ao juiz. “Doutor, eu vou lhe avisar uma coisa. Estes mesmos que me atacam hoje se tiverem sinais de que eu serei absolvido, prepare-se, porque os ataques ao senhor vão ser muito mais fortes do que eles fazem até aos ministros da Suprema Corte.”

Penso e tenho dito ser este o grande nó histórico. Como vamos fazer a passagem pós-desfecho judicial? Os fatos em si, mesmo que translúcidos aos olhos de qualquer análise probatória não serão suficientes para pacificar toda a sociedade, independentemente do veredicto.

Não há a hipótese, para milhões de brasileiros que Lula não seja preso. Não há a hipótese, para milhões de outros brasileiros que Lula seja preso.

No próximo post abordo minhas observações sobre a parte central do depoimento.



Até breve.

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