quinta-feira, 9 de março de 2017

MIL




"Acontece de felicitarem um escritor, mas ele bem sabe que está longe de ter atingido o limite que se propõe e que não para de furtar-se, longe de ter concluído seu devir.
Escrever é também tornar-se outra coisa que não escritor."
Gilles Deleuze / Crítica e Clínica

1000. Mil.

Um amigo/irmão que também sofre de letrar me disse, recentemente, que vai me ajudar a colocar meus posts à prova.

Afinal em 999 deve ser possível escolher uns 100, 50, 30 vai que sejam publicáveis. A ideia é ver se dá para colocar em livro. Isto já me havia ocorrido, mas como sempre, abandono.

Tem alguns que tenho dúvidas de ter sido eu o autor, outros que tenho certeza que não fui eu. Dois ou três que estou em carne e osso. Vários que melhor não tê-los escrito. A maioria, talvez.

Nenhum deles, no entanto, deletarei das nuvens. Eles se perderão no vazio pela inconsistência, impropriedade, superficialidade, enfim, por não contribuírem em nada. O universo está pleno de letras inservíveis.

Às vezes, pergunto a mim mesmo qual deles eu mais “gosto”. Sofro, porque sei que não me disse nesse ou naquele senão em todos. Até nos mais impróprios, insanos, delirantes, vazios.

Eu inscrevi das entranhas, às mentiras, à pele bruta e rasgada, ao coração, ao cérebro, às vísceras. Na minha solidão de comentários, eu lavrei às cegas, e abri as veias do meu viver mais do que banal.

Meus cúmplices foram rareando, ao longo de quase seis anos de lavratura, a ponto de me deixarem absolutamente só, na tarefa. No início alguns parentes e alguns poucos amigos liam e opinavam. Hoje, nem parentes. Nem leem, quanto mais opinam.

E, confesso: no fundo eu queria era ser uma celebridade dessas daí que conta com mais de vinte milhões de seguidores cativos. Ou um youtuber desses que fazem rir.

Eu queria ser um Paulo Coelho da vida. Um Leandro Karnal. Um Gregório, não o de Matos, mas o Duvivier. Eu queria ser Anitta. Eu queria, de fato, estar com alguém em selfies.

Vamos ver se, editado, eu consiga celebrizar-me. Torne-me best seller. Na lista dos mais vendidos. Convidado para todos os programas de TV, aberta e semi-aberta. Meu sonho é estar no Roda Viva, no Faustão, no Ratinho, no Jô (um especialíssimo só por ser eu), no Daniel Gentilli, no JN, no JC, no JB, no JSBT, nas News, no Globo Rural.

Recebendo prêmios na presença de Ministros da Cultura e com uma entourage eufórica e briguenta. Ou recusando outros, mais expressivos. Tornando-me imortal e sentando-me na cadeira de iluminados acadêmicos.

Versando sobre os meus posts. Especialmente aqueles que trato dos malditos em banais contos, das empregadas domésticas perdidas em suas dependências completas, dos amores acasos e o ocaso deles, dos mais herméticos e fechados, dos incompreensíveis até por mim mesmo.

Eu queria muito, com o meu Rider usado, expondo minhas mais exóticas unhas encravadas, ser fotografado pela Revista Caras.

Lendo meu post TREVA.


Até breve.


7 comentários:

  1. Você não precisa dessa celebridade... 1000 é um número significativo para um palavrador ... e que palavrador. Como você mesmo citou .. das entranhas .. do amor . . Da dor.. sorte que você não é celebridade afinal resguarda a essência do Agulhozinho aí .. adorei! Parabéns !!! Mais mil por favor !!! Ao menos..

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  2. Querido amigo, comungamos nos pensamentos sórdidos, mas não nas letras. Confesso que não tenho este dom e sinto, até, uma certa inveja de quem, como você, tem sobrando. Esta marca dos mil posts é muito chic e o que eu mais gosto é do que fala da nossa irmandade. Grande beijo, Rijane

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  3. Agora você é rei, como "rei" Pelé, atingiu a marca dos mil. São poucos que tem a oportunidade de acompanhar suas letras mas este seleto grupo lhe é grato.
    No anonimato e no silêncio da rede pedimos mais mil e sabemos que não é uma tarefa simples arranjar tantos sentimentos e pensamentos em post.
    Forte abraço e parabéns
    Julinho

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  4. Meu amigo Agulhô, fiquei impressionado ao me dar conta de que já é o post número mil. É muita dedicação e disposição em doar ideias- às vezes ácidas, às vezes doces- mas sempre muito ricas. Não li os mil posts, distraído que fico com o bombardeio de informações que recebo a cada dia. Mas sei que a cada um que perdi (ainda posso resgatar), deixei de fazer uma ginástica cerebral, ficando com essa minha cachola fossilizada. Parabéns, meu amigo. Continue compartilhando suas ideias conosco, que somos muito mais importantes que os talk shows e o jornalismo das redes de tevês. Abraço fraterno.

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  5. Mil contos e muitas histórias com pontos, virgulas e reticências
    Te acompanho a cada post, uns eu amo, outros me assustam mas, em todos te identifico ! bjos LIZ!

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  6. Amigo Agulhô,
    Impossível não perceber sua notoriedade. Você tem o dom da comunicação.
    Sua mente brilhante se faz presente nas entrelinhas , na transmissão gráfica de seus pensamentos, através de seus posts.
    E somos agraciados com suas histórias e estórias, reais ou imaginárias, não importa. Temos o privilégio de desfrutar de suas ideias , através de uma leitura de "mil" faces. Às vezes divertida, inteligente, culta, informativa e ao mesmo tempo despretenciosa.
    Parabéns pelo número 1000. Que muitos outros milhares venham nos presentear.
    Abraços!!
    Eliane Montijo Saade

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  7. parabéns...grande Agulhô... que venham outras 1000 e que possamos sempre ter a possibilidade de participar..., da amiga Lígia Bisogni

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