terça-feira, 14 de março de 2017

BRONCA



Encontrei-me com um colaborador da redação aqui do dasletra que, de há muito, não vinha à post. Não sei se deveria, mas perguntei para ele:

- E aí, figura, qual é?

Sabendo que ele ia destrambelhar eu imediatamente liguei o gravador. Consegui registrar o que vai abaixo, escrito em itálico.

Não sei, mas me deu de pensar se não estamos a caminho do Socialismo.

O poder igualitário nas mãos de todos. Bem, de quase todos. Pelo menos os que podem conduzir para algum canto os acontecimentos.

As redes sociais diuturnamente produzem fatos, factoides, versões, verdantiras (algo de verdade misturado com mentiras), enfim constroem o Real. E o pior, esse “Real” é que “repercute”.

Socialismo de Rede, ou Socialismo em Rede.

Poder de todos, para todos, contra todos, por todos, e no todo. E em tudo.

Nada escapa e nem ninguém. Tudo que se passa, instantaneamente está nas telas pequenas, médias e grandes. Em áudio, texto e/ou vídeo. Interativamente dinâmicas, com acesso e portabilidade.

Talvez não serão mais manifestações de ruas, mas manifestações nas infovias que determinarão rumos. Um dia, até eleições permanentes. A democracia representativa de há muito já era. Pelos seus custos, pelos seus cunhos, pelos seus crimes. Quem sabe até a Justiça, seja feita na fogueira ou no favo das Redes.

O Socialismo de Rede libertará o cidadão do Estado. O Poder Moderador fluirá da práxis social. Salve-se quem puder, em um primeiro momento.  Consciência aguda na sequência. Paz social, que nada. Trampo puro, vale-tudo.

O Homem prescindirá de governantes. Emergirá o Autogoverno. A musculatura social será arquitetura da manifestação em tempo real, quem tiver maior aderência mantem-se.

A individualidade, quimera.

A liberdade, nem para eremita.

A poesia vagará alucinógena para humanoides dissolutos. A ficção perderá feio para os reais. Ninguém precisará procurar invencionices, nem terrores, aventuras, romances fortuitos, a rede abrangerá o todo.

Todo sentimento.

A moeda ainda circulará, com valor radicalmente distinto do presente. Não valerá quanto pesa, mas quanto causa. Nenhum conhecimento da ciência econômica tem réguas disponíveis para dar conta, ainda.

A avalanche transformadora engolirá conceitos, crenças, valores, e vomitará tantos quantos forem para um agora e imediato. Num instante seguinte, outro. O tempo mudará seu diapasão.

Ninguém poderá regular-se pelos janeiros, fevereiros ou marços. E até dezembros. A lógica não se dará por exercícios fiscais e contábeis. Nem aniversários ou Natais.

Escolas e templos ruirão.

Os quartéis ficarão às moscas. Armas só para bandidos de quinta categoria que se autodestruirão em gangues de guetos, misturados a cães famintos.

A comida chegará em dutos. A água.

Ninguém sairá de casa. Tudo acontecerá na tela.


Ao sair do bar, ele me mandou à merda.



Até breve.

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