quarta-feira, 29 de março de 2017

MICROAGENDAMENTOSPROBABILÍSTICOS



Dia 04 de abril eu completo 48 anos que estou com Ela.

Dia 07 de abril termina o julgamento no TSE da Chapa Dilma/Temer. Ela se tornará inelegível e ele terá seu mandato cassado. Como também no dia 07 será divulgada a Lista do Janot, na qual serão indiciados 173 parlamentares, entre estes todos da linha sucessória da Presidência da República, assumirá o Sr. Gefrésio dos Antares, excelentíssimo Chefe do Setor de Serviços Gerais do Palácio do Jaburu, na qualidade de Presidente e a Sra. Antonina de Freitas Gonçalves e Silva, digníssima sub-encarregada do Setor de Limpeza de Mobiliário em Madeira do mesmo palácio, na qualidade de Vice-Presidenta da República.

No dia da posse a imprensa divulgará rumores de que o Sr. Gefrésio é suspeito de desvio de rolos de papel higiênico (folhas duplas) do almoxarifado do Palácio e que a Dona Antonina foi diversas vezes flagrada subtraindo frascos de Óleo de Peroba para venda na Feira do Paraguai, em Brasília.

A defesa dirá que ambos estarão contribuindo com o MPF e a PF nas investigações e que, verificados os fatos, as denúncias não passarão de ilações vazias de delatores premiados de passado inconfessável.

A rede social divulgará as datas e os locais para as manifestações. Blogs patrocinados ou não, colunistas da mídia impressa, eletrônica e digital repercutirão pareceres abalizados.

Na semana de 17 a 21 de abril, encontrarei tempo para ir para o Sítio. Há uma série de reparos a fazer com vistas a embelezá-lo para a festa de aniversário de um ano de idade da Lelê, minha netinha, que acontecerá no dia 30.

Dia 14 de abril é o dia da Paixão. Cairá numa sexta-feira. Dia 21 é feriado, Tiradentes.

Dia 26 chegam a Belo Horizonte, vindos de Lages-SC onde moram (não consigo me acostumar com isso), minha filha Pretinha e os meus netinhos Liz e Valentin. Eles vêm para a festa de Lelê.

Ao longo de abril Trump aprofundará medidas para destruir sumariamente aquilo que seu antecessor considerou como o maior avanço para mitigar os efeitos da emissão de gases poluentes sobre o planeta. A previsão é de que em algumas regiões da China as pessoas não poderão sair às ruas face à impossibilidade de enxergar qualquer outro transeunte a 10 cm de distância. Em compensação Trump devolverá o emprego a alguns americanos na indústria de carvão e garantirá a autossuficiência de energia dos USA.

Dia 30 de abril, um domingo, eu serei mais feliz. Na festa de Lelê, estaremos todos juntos.

Dia 01 de maio, Trabalho. Esquenta para os 50.000 militantes do exército vermelho para impedir que Lula seja preso no dia 03, uma quarta-feira, em Curitiba.

Dia 03, depoimento do Milênio, do homem mais honesto da face da Terra ao Herói Nacional. Para quem se interessar já há versões do que será dito pelo ex-presidente da República em diversas oportunidades semelhantes.

Dia 04, uma quinta-feira, não há previsões meteorológicas confiáveis. É certo, contudo, que já estarei morrendo de saudades de Liz e Valentin que retornarão para Lages no dia 02.

De qualquer forma...



Até breve. 

domingo, 19 de março de 2017

GALINHAVIVA



Aquele amigo que disse que me ajudaria a selecionar posts e trabalhar pela edição em livro me ligou ontem à tarde. Foi uma conversa de quase duas horas, não só a respeito da banalidade da ideia.

- Agulhô, seu filho da puta, que empreitada que você me arrumou, cara!

- Foi eu não, bicho, você que se propôs...

- Pô, maior fria... Eu tô super enrolado com um monte de outros trens e agora tô só preocupado...

- Com quê?

- Cê deve tá muito ansioso...

- Esquenta não...

- Posso ser sincero?

- Sobre o quê?

- Esse negócio de ser mil ou trocentos posts, larga disso cara... Tem nada a ver...

- Ahã...

- Agora já lí uma porrada e 80% é porcaria, coisas aí do seu cotidiano...

- Escrever para mim é como cagar?

- Ha... Ha... Ha...

- Todo dia evacuo minha produção que já não me serve e lanço nos subterrâneos e nas nuvens...

- Eu tô na quinta latinha de cerva, aqui sozinho em casa...

- Eu tomei só três...

- Aqui, falando sério... Os outros vinte por cento são bons prá caralho! Você escreve bem prá burro, tem um estilo assim...

- Sei...

- Acho que tem muito material, mas você podia dizer aí o que você escolhe para a gente ver a quem dirigir... Tem essas coisas de marketing... Como a gente vai encaminhar com o editor...

- Ahã...

- Leva mal não amigo, é que tô mesmo embrulhado com alguns projetos que vão demandar...

- Fica tranquilo...

Ainda bem que falamos de tantas outras coisas verdadeiramente importantes e que fazem com que preservemos essa amizade tão sólida e antiga. Coisas de fundo, das dores e paixões, da história pessoal e seus endereçamentos. E rimos muito, às gargalhadas e, houve momento, que também alguma coisa, líquida, quase que escorre dos meus olhos.

Vou ligar para ele agora e pergunta-lo:

- E aí, bicho, a gente inclui em qual categoria esse post? Na dos 20% ou dos 80%?

É foda, por isto.



Até breve.

sábado, 18 de março de 2017

QUÊ



Matheus não arrebata como cantor, especialmente quando o pano se abre. É tudo que se pode falar sobre a experiência que se vive no desenrolar das cenas.

Processo de Conscerto do Desejo, que fomos assistir ontem no CCBB, no entanto, que Nachtergaele nos oferece, e, especialmente no tempo presente, é soberbo.

No programa da peça ele escreve:

“Poucas palavras se confundem tanto em nossa língua quanto ‘concerto’ e ‘conserto’. Aqui, elas se mesclam vertiginosamente. A palavra desejo, em filosofia, seria a tensão em direção a um fim de onde se espera satisfação. Tradicionalmente o desejo pressupõe carência, ou alguma forma de indigência: um ser que não carecesse de nada, não desejaria nada. Seria um ser perfeito, um Deus. Por isso a filosofia, tantas vezes, considera o desejo como característica primeira do ser imperfeito, do ser finito.”

Transformar a experiência pessoal em arte é um caminho de inspiração recorrente para atores e dramaturgos. Levar sofrimentos e traumas para o palco, no entanto, exige uma dose extra de coragem e desprendimento.

O ator e diretor, que alço no Olimpo de Paulo Autran e Juca de Oliveira, constrói ao longo de anos de pergunta uma imagem idealizada de sua mãe, a poeta Maria Cecília Nachtergaele, que se matou quando ele tinha só três meses, em 1968, aos 22 anos.

O sofrimento do filho fica disfarçado, e Nachtergaele transforma-se na própria personagem trazendo à tona poemas escritos por ela e reconstituindo histórias ouvidas no decorrer da vida, até quando o seu pai entrega-lhe (Matheus estava com dezesseis anos de idade) os poemas escritos por ela e conta como a mãe havia morrido.

Em sua entrega, o ator traça um retrato lírico de Maria Cecília e foge do aprofundamento em temas pessoais e mais dramáticos. O protagonista, embebido de arte, se coloca no lugar da mãe na tentativa de entender suas motivações.

A memória, ora vestida de som e luz, ora de silêncio e sombra, mas, sobretudo, impregnada na narrativa poética, é o fio condutor do espetáculo. Ao se fundirem, no neologismo “conscerto”, as palavras concerto e conserto revelam duas intenções, a do espetáculo e da restauração através da poesia. O artista explica, objetivamente: “Quero consertar meu desejo com poesia, num concerto.”.

A música trazida tirada de violão e violino por Luã Belik e Henrique Rohrmann embebedam segundando e suportando o texto de forma esplendorosa. Quando resta em cena somente a música, em raro momento, Luã sola, a luz foca apenas ele e aos poucos Mateus se aproxima e se senta aos pés do músico. Matheus se enreda nas pernas do músico como se quisesse fazer música e poesia uma coisa só.

Maravilhosa a escolha da canção de Sérgio Endrigo, que Marília Cécilia adorava, Io Che amo solo te, que Matheus interpreta. Io ho avuto solo te/e non ti perdero/ e non ti lascero/ per cercare nuove aventure, além de, io mi fermero/ e ti regalero/ quel che resta della mia gioventu.

Em entrevista, Matheus disse: “O espetáculo é simples assim: um homem (que por acaso é um ator) diz no palco as palavras escritas por sua mãe. Um violão (não por acaso, pois Maria Cecília amava os violões) o acompanha. É só isso, se isso for pouco.”.

Maria Cecília lança o filho a uma nova aventura e deixa o que lhe resta, a sua juventude. Ela foi uma mulher feminista, nos anos 60, que reivindicava mais ternura no mundo dos homens.

Em momento comovente e contundente da peça, Matheus lança holofotes sobre a plateia vem para junto do público e diz um dos poemas mais expressivos da poetisa, no qual há uma proposta: sempre e, sobretudo, amem.

Este espetáculo é um tributo à mulher, dramaticamente ceifada pela poesia que a levou a uma insustentável leveza de angústia depressiva pós-parto, mas nos deixa diante da vida para continuar tentando.

Minutos antes de o espetáculo começar houve um princípio de manifestação política e, imediatamente ocorreu um rechaço à ideia. Parece que se percebeu que viria ali algo que não trataria do Homem e do seu tempo, mas do Humano. O demasiado humano.

No final Matheus convida Elis Regina, que faria ontem aniversário, sugere uma canção dela e deixa a plateia.

Ainda há um quê pelo que viver.





Até breve.

NOTA: Aliás, estivesse aqui, minha mãe faria aniversário ontem.

sexta-feira, 17 de março de 2017

REPOSSE




A cada dia fica mais complexa a Vida.

A fala, em palanque, de menos de dez minutos de Lula em São Paulo, quando das manifestações do último dia 15, é mais do que objetiva.

Ele construiu estrategicamente as condições para viabilizar a sua reinserção na liderança de uma expressiva, engajada e politicamente ativa parte da sociedade brasileira.

Doravante Lula fará uso de circunstâncias favoráveis a ele, patrocinadas pelo governo Temer (via projetos e medidas impopulares), pelo Congresso Nacional (denunciado aos montes) e por parte do STF (sem credibilidade), para fazer com que ele pareça ser aquele e único capaz de recuperar os trilhos.

Seus eventuais opositores são pífios (a maioria também será investigada), dotados de um discurso que não agrega e incapaz de fazer reunir “a outra” parte considerável da sociedade para uma resistência.

Por sua vez, Dilma está em tour estratégico pelas europas, buscando dar à opinião internacional a versão que interessa aos fatos. Mesmo que em um francês lamentável, já que o português não é o seu forte, opinião é opinião e como tal causa.

A militância? Nem precisa dizer que continua cada vez mais presente e incendiária.

Falta o trágico conspirar a favor de Lula. Pelo adiantado de seus processos judiciais é de todo provável, numa lógica razoável, que ele venha a ser preso antes que outros tantos políticos, com endereço certo também, sejam lançados às grades.

Lula precisa ser preso. Aí não lhe faltará mais nada. Será a glória.

Para refrescar a memória, lanço mão de meu post publicado há um ano. POSSE



Até breve.

terça-feira, 14 de março de 2017

BRONCA



Encontrei-me com um colaborador da redação aqui do dasletra que, de há muito, não vinha à post. Não sei se deveria, mas perguntei para ele:

- E aí, figura, qual é?

Sabendo que ele ia destrambelhar eu imediatamente liguei o gravador. Consegui registrar o que vai abaixo, escrito em itálico.

Não sei, mas me deu de pensar se não estamos a caminho do Socialismo.

O poder igualitário nas mãos de todos. Bem, de quase todos. Pelo menos os que podem conduzir para algum canto os acontecimentos.

As redes sociais diuturnamente produzem fatos, factoides, versões, verdantiras (algo de verdade misturado com mentiras), enfim constroem o Real. E o pior, esse “Real” é que “repercute”.

Socialismo de Rede, ou Socialismo em Rede.

Poder de todos, para todos, contra todos, por todos, e no todo. E em tudo.

Nada escapa e nem ninguém. Tudo que se passa, instantaneamente está nas telas pequenas, médias e grandes. Em áudio, texto e/ou vídeo. Interativamente dinâmicas, com acesso e portabilidade.

Talvez não serão mais manifestações de ruas, mas manifestações nas infovias que determinarão rumos. Um dia, até eleições permanentes. A democracia representativa de há muito já era. Pelos seus custos, pelos seus cunhos, pelos seus crimes. Quem sabe até a Justiça, seja feita na fogueira ou no favo das Redes.

O Socialismo de Rede libertará o cidadão do Estado. O Poder Moderador fluirá da práxis social. Salve-se quem puder, em um primeiro momento.  Consciência aguda na sequência. Paz social, que nada. Trampo puro, vale-tudo.

O Homem prescindirá de governantes. Emergirá o Autogoverno. A musculatura social será arquitetura da manifestação em tempo real, quem tiver maior aderência mantem-se.

A individualidade, quimera.

A liberdade, nem para eremita.

A poesia vagará alucinógena para humanoides dissolutos. A ficção perderá feio para os reais. Ninguém precisará procurar invencionices, nem terrores, aventuras, romances fortuitos, a rede abrangerá o todo.

Todo sentimento.

A moeda ainda circulará, com valor radicalmente distinto do presente. Não valerá quanto pesa, mas quanto causa. Nenhum conhecimento da ciência econômica tem réguas disponíveis para dar conta, ainda.

A avalanche transformadora engolirá conceitos, crenças, valores, e vomitará tantos quantos forem para um agora e imediato. Num instante seguinte, outro. O tempo mudará seu diapasão.

Ninguém poderá regular-se pelos janeiros, fevereiros ou marços. E até dezembros. A lógica não se dará por exercícios fiscais e contábeis. Nem aniversários ou Natais.

Escolas e templos ruirão.

Os quartéis ficarão às moscas. Armas só para bandidos de quinta categoria que se autodestruirão em gangues de guetos, misturados a cães famintos.

A comida chegará em dutos. A água.

Ninguém sairá de casa. Tudo acontecerá na tela.


Ao sair do bar, ele me mandou à merda.



Até breve.

segunda-feira, 13 de março de 2017

APLAUSO



Sinto-me na obrigação de fazer um singelo agradecimento às pessoas que se manifestaram sobre a edição de meu milésimo post.

O faço trazendo para este espaço, para o qual somente eu tenho acesso e que a mim é sagrado, os seus comentários:

“Amigo Agulhô,
Impossível não perceber sua notoriedade. Você tem o dom da comunicação.
Sua mente brilhante se faz presente nas entrelinhas , na transmissão gráfica de seus pensamentos, através de seus posts.
E somos agraciados com suas histórias e estórias, reais ou imaginárias, não importa. Temos o privilégio de desfrutar de suas ideias , através de uma leitura de "mil" faces. Às vezes divertida, inteligente, culta, informativa e ao mesmo tempo despretensiosa.
Parabéns pelo número 1000. Que muitos outros milhares venham nos presentear.
Abraços!!
Eliane.”

“Parabéns... Grande Agulhô... que venham outras 1000 e que possamos sempre ter a possibilidade de participar... da amiga Lígia.”

“Mil contos e muitas histórias com pontos, vírgulas e reticências...
Te acompanho a cada post, uns eu amo, outros me assustam mas, em todos te identifico ! bjos LIZ!”

“Meu amigo Agulhô, fiquei impressionado ao me dar conta de que já é o post número mil. É muita dedicação e disposição em doar ideias- às vezes ácidas, às vezes doces- mas sempre muito ricas. Não li os mil posts, distraído que fico com o bombardeio de informações que recebo a cada dia. Mas sei que a cada um que perdi (ainda posso resgatar), deixei de fazer uma ginástica cerebral, ficando com essa minha cachola fossilizada. Parabéns, meu amigo. Continue compartilhando suas ideias conosco, que são muito mais importantes que os talk shows e o jornalismo das redes de tevês. Abraço fraterno.” Julinho

“Agora você é rei, como "rei" Pelé, atingiu a marca dos mil. São poucos que tem a oportunidade de acompanhar suas letras, mas este seleto grupo lhe é grato.
No anonimato e no silêncio da rede pedimos mais mil e sabemos que não é uma tarefa simples arranjar tantos sentimentos e pensamentos em post.
Forte abraço e parabéns
Julinho.”

“Querido amigo, comungamos nos pensamentos sórdidos, mas não nas letras. Confesso que não tenho este dom e sinto, até, uma certa inveja de quem, como você, tem sobrando. Esta marca dos mil posts é muito chic e o que eu mais gosto é do que fala da nossa irmandade. Grande beijo, Rijane.”

“Você não precisa dessa celebridade... 1000 é um número significativo para um palavrador ... e que palavrador. Como você mesmo citou .. das entranhas .. do amor . . Da dor.. sorte que você não é celebridade afinal resguarda a essência do Agulhozinho aí .. adorei! Parabéns !!! Mais mil por favor !!! Ao menos... Camila.”

Poucos, mas adoráveis. Quero guardar também, neste espaço, o comentário de uma “amiga feicebucana” alguém que, até o momento, não conheci pessoalmente. É de Pilar, que não é a que foi de José Saramago:

“Que prazer, Agulhô... Quando te encontrei por aqui, foi como conhecesse você do tempo da faculdade...
Seu texto me chamou atenção , de tal ordem que trocamos ideias e pensamentos desde ai...
Sou formada em língua portuguesa e literaturas e fiz curso de literatura comparada e lecionei na área de textos.
Seu blog é fluido, o pensamento com narrativa focada e um grande intertexto tecido.
Sou fã também do seu humor apurado.
Parabéns, querido continue me presenteando sempre e vida longa às nossas escritas e ideias. Beijo.”

Jamais imaginei que alguém pudesse descobrir o meu intertexto, ainda mais, tecido.

A todos vocês e a tantos outros que não tenham expressado sua opinião o meu mais profundo agradecimento por compartilharem comigo minhas idiossincrasias, meus temores, minhas angústias, enfim...




Até breve. 

quinta-feira, 9 de março de 2017

MIL




"Acontece de felicitarem um escritor, mas ele bem sabe que está longe de ter atingido o limite que se propõe e que não para de furtar-se, longe de ter concluído seu devir.
Escrever é também tornar-se outra coisa que não escritor."
Gilles Deleuze / Crítica e Clínica

1000. Mil.

Um amigo/irmão que também sofre de letrar me disse, recentemente, que vai me ajudar a colocar meus posts à prova.

Afinal em 999 deve ser possível escolher uns 100, 50, 30 vai que sejam publicáveis. A ideia é ver se dá para colocar em livro. Isto já me havia ocorrido, mas como sempre, abandono.

Tem alguns que tenho dúvidas de ter sido eu o autor, outros que tenho certeza que não fui eu. Dois ou três que estou em carne e osso. Vários que melhor não tê-los escrito. A maioria, talvez.

Nenhum deles, no entanto, deletarei das nuvens. Eles se perderão no vazio pela inconsistência, impropriedade, superficialidade, enfim, por não contribuírem em nada. O universo está pleno de letras inservíveis.

Às vezes, pergunto a mim mesmo qual deles eu mais “gosto”. Sofro, porque sei que não me disse nesse ou naquele senão em todos. Até nos mais impróprios, insanos, delirantes, vazios.

Eu inscrevi das entranhas, às mentiras, à pele bruta e rasgada, ao coração, ao cérebro, às vísceras. Na minha solidão de comentários, eu lavrei às cegas, e abri as veias do meu viver mais do que banal.

Meus cúmplices foram rareando, ao longo de quase seis anos de lavratura, a ponto de me deixarem absolutamente só, na tarefa. No início alguns parentes e alguns poucos amigos liam e opinavam. Hoje, nem parentes. Nem leem, quanto mais opinam.

E, confesso: no fundo eu queria era ser uma celebridade dessas daí que conta com mais de vinte milhões de seguidores cativos. Ou um youtuber desses que fazem rir.

Eu queria ser um Paulo Coelho da vida. Um Leandro Karnal. Um Gregório, não o de Matos, mas o Duvivier. Eu queria ser Anitta. Eu queria, de fato, estar com alguém em selfies.

Vamos ver se, editado, eu consiga celebrizar-me. Torne-me best seller. Na lista dos mais vendidos. Convidado para todos os programas de TV, aberta e semi-aberta. Meu sonho é estar no Roda Viva, no Faustão, no Ratinho, no Jô (um especialíssimo só por ser eu), no Daniel Gentilli, no JN, no JC, no JB, no JSBT, nas News, no Globo Rural.

Recebendo prêmios na presença de Ministros da Cultura e com uma entourage eufórica e briguenta. Ou recusando outros, mais expressivos. Tornando-me imortal e sentando-me na cadeira de iluminados acadêmicos.

Versando sobre os meus posts. Especialmente aqueles que trato dos malditos em banais contos, das empregadas domésticas perdidas em suas dependências completas, dos amores acasos e o ocaso deles, dos mais herméticos e fechados, dos incompreensíveis até por mim mesmo.

Eu queria muito, com o meu Rider usado, expondo minhas mais exóticas unhas encravadas, ser fotografado pela Revista Caras.

Lendo meu post TREVA.


Até breve.


segunda-feira, 6 de março de 2017

DESFATOS



999. Novecentos e noventa e nove.

Nove dias dedicados exclusivamente à família em um balneário no sul do país.

Pois é, saí por uma semana do mundo e, por causa disto, achei que ele se tornaria melhor. Sem minha contribuição para atrapalhar, todas as coisas ficariam em seus devidos lugares. Especialmente a Verdade.

Rápidas olhadelas aqui e ali em alguma coisa, mas com um bruto desinteresse. Fiz até algum comentário feicebucante, uartisapes, mas nada que pudesse de fato gerar qualquer intervenção importante no andamento das coisas.

Voltei.

Para atrapalhar, portanto. Porque todo aquele que está gastando o precioso tempo dos mortais para dizer qualquer coisa está, no fundo, atrapalhando. E muito. Acho que nunca se leu tanto e se viu tantas imagens, estáticas ou móveis, quanto na atualidade.

As pessoas nunca estiveram expostas tanto quanto agora. E nunca estiveram tão dispostas quanto agora. E nunca estiveram tão impostas quanto agora. E nunca estiveram tão postas quanto agora. Não há nada que não esteja posto.

Posto isto, eu queria era mesmo dizer que nunca estivemos tão próximos de compreender tudo quanto agora. Na medida em que tudo está posto e sobre o qual zilhões comentam, reagem, esbravejam, combatem, questionam, curtem, compartilham, deletam, não há nada que não seja.

Enfim, se se sempre (que horror!) buscou-se saber sobre tudo, hoje se sabe. Tudo está de la ta do nos seus mais ínfimos de ta lhes. Ninguém está imune a uma câmera, a uma denúncia, a um revide, a um post.

O Ser, mais do que o Nada, virou o Meio. A foto, o post, o vídeo é a Vida vivida. Eu sou um texto, uma foto, um vídeo. Ser é expor-se. Mesmo que não se seja, que seja o que o outro diz, revela, posta. Ser é compartilhar, mídias.

Nunca fomos todos, tão juntos e misturados. Nunca fomos tão todos, quanto agora. Uma massa compacta e uniforme, sem nuances e sem mistérios. Todos são de todos e ninguém é de ninguém.

Ser não é.

Quinta-feira fiquei preocupado. Acho que exageramos com Lelê. Ela está com dez meses de idade, portanto muito novinha para tanta estripulia beira-mar. Que a mãe não saiba, porque estava ausente, mas minha netinha mais nova bebeu alguns mililitros de água salgada, comeu areia, caiu de cabeça dentro do pátio central do castelo que ainda estávamos esculpindo na areia. Chupou picolé de chocolate.

À noite, da mesma quinta-feira, fomos jantar depois das vinte horas e Lelê ficou acordada, saindo, portanto, de sua rotina. Na volta para a pousada, chovia, estávamos sem guarda-chuvas, Lelê no colo do pai.

Acho que se molhou, mesmo que pouquinho.

É que li os jornais de hoje, alguns articulistas e cronistas e me lembrei de um cartaz fixado em mural de uma igreja em Lisboa: “Na sexta feira às sete, os meninos do Oratório farão uma representação da obra “Hamlet”  de Shakespeare, no salão da igreja. Toda a comunidade está convidada para tomar parte nesta tragédia.”.

Pois é.



Até breve, que será o milésimo.