Vlad me passou um livro prá ler. “Seu
estilo parece com o dele, pai. Você vai gostar”. Interessante que Pretinha foi
quem deu o livro de presente de aniversário ao irmão.
A Lua vem da Ásia, de Campos de
Carvalho, tendo sido editado pela primeira vez em 1956. A apresentação do livro
em edição de 2016, portanto sessenta anos depois de sua primeira publicação, contempla
comentário de Noel Arantes, do qual extraí o trecho:
“Esta obra-prima da literatura
brasileira ousou ser diferente num momento em que ser diferente era muito mais
difícil. Surrealismo, humor, nonsense,
rebeldia, combate à hipocrisia e ao establisment
são seus principais ingredientes. Campos de Carvalho não transgrediu um
milímetro no propósito de aliar a um profundo sentimento humanista a implacável
lucidez de quem desconfia e sabe que o mundo se finge de sério.”
Na Wikipedia encontrei declaração
de Carvalho: “Sou eternamente grato a um crítico que certa vez me chamou de clown (nem
a minha própria mãe me chamou assim) — como sou grato aos que me chamaram de
palhaço com segundas intenções ou mesmo com terceiras. Antes de morrer ainda
hei de armar o meu pavilhão auricular, isto é, dourado, em todas as praças do
mundo e dele partir como um bólido rumo a todas as constelações, pregando a
hilaridade e a língua de fora à boa maneira de Einstein e dos enforcados.”
De A Lua
vem da Ásia, extraio um fragmento: “A caminho do hotel, percebo que a mulher
manca horrivelmente da perna esquerda e que é muito mais feia do que eu
pensava, além de ter um hálito capaz de provocar verdadeira guerra
bacteriológica num raio de dez quilômetros. Mas, como lírico e ainda não tenha
vomitado toda a minha alma, levo-a assim mesmo para o quarto e ali a possuo por
três vezes seguidas – duas por minha conta e uma em nome de meu irmão gêmeo e
sepulto em mim – o que a faz lamentar ser tão pequena a minha família e tão
avaro o meu espírito de fraternidade”.
Ocorre
que, como de hábito, li o Oscar Quiroga no Estadão. Para o meu signo de hoje ele
sugere:
ABANDONA A REVOLTA
Revoltar-te contra o que te oprime, apesar de ser uma atitude legítima,
tu precisas reduzir o tempo existencial que dedicas a essa atitude, pois, isso
te amarra a referências feitas pessoas, instituições e demais abstrações e,
nessa condição de dependência mutua, um dia te descobrirás apreciando a
opressão, já que tua existência seria definida pela oposição que a ela fazes.
Então, agora deixa tua amada revolta de lado, ela é uma amante indigna e
ciumenta, te quer só para ela, te quer desperdiçando o precioso tempo
existencial na dinâmica de oposição. Então, agora começa a usar a mesma energia
que antes gastavas na oposição para te aproximar com firmeza a tudo que anseias
experimentar e que supostamente não era possível porque havia algo ou alguém te
oprimindo, te reprimindo ou te castrando.
Meu
filho sabe muito bem quanto de angústia profunda há em um palhaço.
Até breve.
Vou pegar emprestado a recomendação de seu horóscopo!
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