quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

CHAPLINICE



Vlad me passou um livro prá ler. “Seu estilo parece com o dele, pai. Você vai gostar”. Interessante que Pretinha foi quem deu o livro de presente de aniversário ao irmão.

A Lua vem da Ásia, de Campos de Carvalho, tendo sido editado pela primeira vez em 1956. A apresentação do livro em edição de 2016, portanto sessenta anos depois de sua primeira publicação, contempla comentário de Noel Arantes, do qual extraí o trecho:

“Esta obra-prima da literatura brasileira ousou ser diferente num momento em que ser diferente era muito mais difícil. Surrealismo, humor, nonsense, rebeldia, combate à hipocrisia e ao establisment são seus principais ingredientes. Campos de Carvalho não transgrediu um milímetro no propósito de aliar a um profundo sentimento humanista a implacável lucidez de quem desconfia e sabe que o mundo se finge de sério.”

Na Wikipedia encontrei declaração de Carvalho: “Sou eternamente grato a um crítico que certa vez me chamou de clown (nem a minha própria mãe me chamou assim) — como sou grato aos que me chamaram de palhaço com segundas intenções ou mesmo com terceiras. Antes de morrer ainda hei de armar o meu pavilhão auricular, isto é, dourado, em todas as praças do mundo e dele partir como um bólido rumo a todas as constelações, pregando a hilaridade e a língua de fora à boa maneira de Einstein e dos enforcados.”

De A Lua vem da Ásia, extraio um fragmento: “A caminho do hotel, percebo que a mulher manca horrivelmente da perna esquerda e que é muito mais feia do que eu pensava, além de ter um hálito capaz de provocar verdadeira guerra bacteriológica num raio de dez quilômetros. Mas, como lírico e ainda não tenha vomitado toda a minha alma, levo-a assim mesmo para o quarto e ali a possuo por três vezes seguidas – duas por minha conta e uma em nome de meu irmão gêmeo e sepulto em mim – o que a faz lamentar ser tão pequena a minha família e tão avaro o meu espírito de fraternidade”.

Ocorre que, como de hábito, li o Oscar Quiroga no Estadão. Para o meu signo de hoje ele sugere:

ABANDONA A REVOLTA

Revoltar-te contra o que te oprime, apesar de ser uma atitude legítima, tu precisas reduzir o tempo existencial que dedicas a essa atitude, pois, isso te amarra a referências feitas pessoas, instituições e demais abstrações e, nessa condição de dependência mutua, um dia te descobrirás apreciando a opressão, já que tua existência seria definida pela oposição que a ela fazes. Então, agora deixa tua amada revolta de lado, ela é uma amante indigna e ciumenta, te quer só para ela, te quer desperdiçando o precioso tempo existencial na dinâmica de oposição. Então, agora começa a usar a mesma energia que antes gastavas na oposição para te aproximar com firmeza a tudo que anseias experimentar e que supostamente não era possível porque havia algo ou alguém te oprimindo, te reprimindo ou te castrando.

Meu filho sabe muito bem quanto de angústia profunda há em um palhaço.



Até breve.

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