sábado, 4 de fevereiro de 2017

BROCA



Ontem travei breve debate no FB com dois grandes amigos com quem tive o privilégio de trabalhar na MBR. Tenho profundo respeito, admiração e, sobretudo, gratidão por ambos.

Não cito o nome deles aqui por não estar autorizado a fazê-lo. Um e outro, me parece, têm convicções ferrenhas e fundamentadas a propósito da política. Um petista roxo e outro, suponho, escolher como alternativa a intervenção militar.

O debate surgiu a partir da postagem, pelo petista, do vídeo abaixo:



Acordei de madrugada incomodado por ruminescências. Lembrei que na década de 80, dentro do rol de minhas responsabilidades profissionais, estava a negociação trabalhista.

Por força disto me envolvi (inúmeras oportunidades) em palestras, seminários, congressos, mesas de debate versando sobre o tema mais do que palpitante da época. Eu havia vivido a greve ocorrida na FIAT em 1978 e estava hipersensibilizado, como sempre, com o que acontecia ao meu redor.

O Brasil vivia a passagem da redentora de 64 para a distensão e redemocratização e tinha, nas relações entre capital e trabalho, o ambiente mais acalorado.

Na época visitei, em duas ou três oportunidades o Instituto Cajamar, que viria a ser a Universidade do Trabalhador e que tinha como Reitor ou Patrono ninguém menos do que o extraordinário educador, Paulo Freire.

Lembro-me que em uma das palestras que assisti feita por Paulo meu coração não se continha, dada a clareza, o brilhantismo e a contundência do discurso do autor de A Pedagogia do Oprimido, livro que me levava às lágrimas.

Entre tantos eventos lembrei-me de um dos congressos brasileiros de que participei levado pelo querido e saudoso amigo Dr. Dráusio Rangel, iminente e famoso negociador pelo lado patronal da indústria automobilística.

Eu estava na MBR e dividi um dos painéis do congresso com um amigo contemporâneo na FIAT, o Osmani então Diretor de Relações do Trabalho na montadora, Vicentinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e Jacques Wagner, presidente do Sindicato dos Petroleiros da Bahia. Eu e Osmani pelos patrões e Vicentinho e Jacques Wagner pelos trabalhadores, moderados pelo Dr. Dráusio.

O congresso teve duas palestras magnas: a de abertura, feita pelo sociólogo e então Senador da República Fernando Henrique Cardoso e a de encerramento, feta pelo sindicalista e então recém-criador do Partido dos Trabalhadores e potencial candidato à Presidência da República, Lula.

Nos bastidores do Congresso, os palestrantes e panelistas tiveram oportunidade de trocar opiniões, experiências, posições políticas, mas todos garantiam estar ali para dar sua contribuição na elaboração e adoção de práticas e políticas que pudessem vir a melhorar a relação entre empresas e seus trabalhadores com vistas ao aumento da produtividade e ao desenvolvimento do país.

Dráusio faleceu. Vicentinho foi prefeito e hoje é deputado. Osmani cruzei com ele recentemente em um shopping. Jacques Wagner se lambuzou.

Fernando Henrique foi Presidente da República e hoje é intermediário de megainvestidores internacionais. Lula foi Presidente da República e recentemente adquiriu pedalinhos para seus netos.

De Paulo Freire ninguém mais fala e nem ouve.

Eu? Perdi minhas ilusões.



Até breve. 

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