998. Novecentos e noventa e oito.
Analistas zodiquianos, ou serão
analistas horoscopianos, ou analistas astrais ou austrais, seja quem for,
elencam entre as características que eu carrego por força da data em que nasci:
trata-se de uma pessoa pouco determinada, não perseverante.
Vocês não são capazes de imaginar
quanto para mim tem sido dasletrar. Para chegar a mil posts, o que pretendo
fazer agora dia 27 (terça-feira), dia em que comemoro o 65º ano do meu
nascimento, está sendo lavrar uma pedreira à unha.
E olhe que eu já cheguei a pensar
em ganhar o Nobel se examinassem minha obra, não toda ela, claro. Alguns textos
eu deveria deletar, sobretudo os considerados melhores segundo a avaliação dos
meus dezessete leitores.
Garimpando na web assunto para
gerar um post de impacto na data, fiz uma pesquisa (mais rasa impossível) do
que teria acontecido naquela quarta-feira de Cinzas do início da segunda metade
do último século do milênio passado.
Nada, foi o resultado da pesquisa.
Estavam todos de porre, pierrôs e colombinas. Os principais jornais do país não
circularam naquele dia. Não havia nenhuma notícia que justificasse sequer uma
edição extra.
No plano internacional encontrei
apenas o registro da realização da primeira reunião na sede das Nações Unidas
no prédio que se inaugurava em Nova Iorque. Mais nada. Não aconteceu nada
naquele dia. Nada.
De lá prá cá, ao longo destes anos
todos, a gente viu muita coisa acontecer. Aliás, a propósito, me deixe voltar a
um assunto aqui. Há três categorias de pessoas: aquelas que estão fazendo as
coisas acontecerem, aquelas que observam àquelas que estão fazendo as coisas
acontecerem, e, aquelas que não estão entendendo nada.
Passei a vida inteira, até aqui, na
segunda categoria, eu acho, embora na maioria das vezes me sinta na terceira.
Enquanto na primeira, a única coisa relevante que fiz foi três filhos e, até
agora, quatro netos, estes não diretamente, é claro.
Estimo que haja hoje no planeta
7.789.325.000 pessoas vivas. 7.241.288.456 pertencem à terceira categoria, ou seja, são
pessoas que não estão entendendo nada. Faço parte, portando, das 547.836.000 pessoas
que observam ou urubuservam as demais 200.544 pessoas que estão fazendo as
coisas acontecerem.
Dois comentários. Confiram, por
favor, as contas. É que eu as fiz em uma calculadora que me chegou ontem via
correio junto a um boleto de contribuição de instituição filantrópica. Temo que
a calculadora também não seja confiável.
Segundo comentário. Claro que
ninguém é capaz de acompanhar mais de duzentas mil pessoas que estão fazendo as
coisas acontecerem. Daí o desespero. Embora muita gente ache que uns ratos
surubentes de palácios precisem ser urubuservados, porque derivará deles toda a
tragédia.
A um post do milésimo quis voltar à
insignificância de uma vida, a minha. Hoje tão ou mais irrelevante que as
reuniões realizadas em determinada organização que se instalou também em 27 de
fevereiro de 1952.
Lembrei-me, talvez por isto, de um
cartaz afixado em um mural de uma igreja que visitei em Lisboa: “O coro dos maiores de sessenta anos vai ser
suspenso durante o verão, com o agradecimento de toda a paróquia”.
Até breve.