Só por necessidade e por nenhuma
outra razão.
Nada de deleite, ou glamurosidade,
ou sufriento dos piores, permitam que eu erre no escrito. Não suporto folhas em
branco, cursores frenéticos piscando na veia.
Do lado de cá, andei hoje por
livraria e li orelhas e contracapas. Queria ser um daqueles, desde sempre. O
que sobrou foi este espaço, menor, de qualquer um que queira.
Livraria são dormitórios, onde
adormecem os personagens, até que leitores os resgatem à vida. Quando entro em
uma sou tomado por estranha sensação de pertença. Fico querendo ser parte de
uma daquelas estórias contada, personagem adormecido ávido por ser resgatado
por leitor.
É como aqui.
Do lado daí, não sei. Só me chegam
números e lugares de onde foram acessados os posts. Agora mesmo estava vendo a
estatística e, nas últimas horas, 92 leitores na França vieram ao encontro de
mim.
Só que não há a especificação de
qual post leu, e nem se foi uma única pessoa que leu 92 posts, ou mais de uma
vez vários posts, enfim quem veio ao encontro de mim. Ou mesmo, nem estava a
procura de mim, a procura de outra coisa que post tivesse sugerido.
Corro um risco tremendo,
escrevendo.
Vai que qualquer hora dessas alguém
me resgata deste sonho profundo que durmo nas nuvens. Uma pessoa que me queira
não personagem, mas sujeito, autor. E peça que eu fale sobre um post qualquer.
“Me fale porque você escreveu
TÁCULO”, por exemplo. E eu me exaltarei se não for compreendido que o
personagem já fez o seu papel, na verdade tela, mas já entregou o seu dizer.
E a pessoa caberá insistir, pois
ficou muito interessada em saber do meu método de elaboração. Eu insisto: “Mas
eu sou personagem!”.
Claro está que a escrita não se faz
no post, mas em quem o lê. E quem lê constrói para si personagem que lhe
couber, ora pois. Não venha procurar saber de mim o que está post.
Pensar assim é só um jeito de
colocar um pouco de delírio no ar. Quando eu não for mais, seguirei nas nuvens,
suponho. Até que alguém, que saiba, me delete. Supondo ainda que eu permaneça,
por dez anos, adormecido nas nuvens e, de repente, alguém me resgate.
Não serei um personagem de mim?
Viver, portanto, é uma página, uma
tela, um post. Deus deve estar irado para comigo. Vai que eu desfiz a ideia de
que Há. Tudo não passa de um roteiro breve, assim de um texto inconcluso,
etérnico.
Sou personagem, nada mais que um
personagem à procura de si autor.
Pobre daquele que não se escreve.
Até breve.
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