Vejamos as coisas em pratos limpos.
Urge fazê-lo. Com profundidade, equilíbrio e coragem. Repensar o cardápio, ir a
ingredientes que determinem nova saudabilidade, retirar outros que só nos
trouxeram males intestinais, estomacais e estéticos.
Há, e por décadas, em que pese o
rol infinito de novidades, uma receita cada vez mais indigesta que, se não
revista, nos levará a óbito.
A expansão dos meios, todos eles,
com refinado uso de tecnologias cada vez mais agudas e sofisticadas, veem correndo
os fins. Vide o exemplo basilar da telefonia móvel, misto de maravilha
degustativa aos borbotões de usos com imensa contaminação venenosa de
multilateralidade.
Com a telefonia móvel um prato não
nos será mais servido. O do mistério. A disponibilidade permanente das portas
abertas durante 24 horas ininterruptas, em multicanais de escolhas, sem censura
e limites obesam o cérebro.
Onde não há mistério, não há o
Humano. Ao longo de toda a História a ignorância, o medo, o gosto por saber ou por
elaborar, sempre foram ingredientes imperiosos à natureza da mesa.
Perdemos a ignorância e com ela a
inocência. Tudo está disponível para ser deglutido em pílulas breves, de fácil
digestão e esteticamente sedutoras. As mídias eletrônicas, os bancos, as lojas
de comércio, as seitas, os canais de encontros para todas as finalidades, tudo
ao alcance de nossos garfos e facas.
Labuzem-se é a chamada.
Sobre o signo da velocidade de um
clic a mesa, com serviço giratório, nos oferenda pratos requentados. A novidade
não traz o novo, embora travestida de contornos. Do que se nutre é do mesmo.
As boates pegam fogo, casas de sociabilidades
são atacadas por exércitos de um único transloucado que dizima dezenas;
solitários suicidas explodem mercados, praças públicas, locais de eventos. O
terror está incluso e já é hoje, menu internacional.
Nada nos escandaliza e nem nos
acomete. O tempero já não diz mais de um sabor que nos sirva, de fato, a novas
experiências nutritivas. O que se lava, não se limpa. Nem em séculos ocorrerá
assepsia. Nem mesmo indo às ruas, com revoluções armadas, ingredientes do
gênero. Esse câncer não tem cura.
No micro, crimes (não mais
hediondos) se repetem sobre toalhas ensanguentadas. O último divulgado, levou
esposa, filho, parentes, amigos e a si mesmo. Um psicopata, exalaram todos os
canais.
A psicopatia não está nele, apenas.
A psicopatia está na cozinha, em tantos que formulam receitas que implicam
nessas não mais indigestas consequências. Quem será o próximo ou a próxima a
incendiar, picotar, balear, esfaquear, seviciar um próximo ou uma próxima à
mesa.
De todos os pratos servidos há um
que mais me angustia e que, talvez, fosse aquele que poderia nos ressaudar. O
da cultura e, por decorrência, seguido o prato das artes.
Em todos os cardápios disponíveis o
que se serve não nos nutre e, pior, não nos trará higidez e saúde. Antes pelo
contrário, são perversos, desprovidos de propósitos, contaminados às vísceras e
sem o menor sabor.
Sem cultura e arte, morte ao
mistério.
Fecha-se o ciclo alimentar.
Até breve.
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