quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

CONSUMO



Vejamos as coisas em pratos limpos. Urge fazê-lo. Com profundidade, equilíbrio e coragem. Repensar o cardápio, ir a ingredientes que determinem nova saudabilidade, retirar outros que só nos trouxeram males intestinais, estomacais e estéticos.

Há, e por décadas, em que pese o rol infinito de novidades, uma receita cada vez mais indigesta que, se não revista, nos levará a óbito.

A expansão dos meios, todos eles, com refinado uso de tecnologias cada vez mais agudas e sofisticadas, veem correndo os fins. Vide o exemplo basilar da telefonia móvel, misto de maravilha degustativa aos borbotões de usos com imensa contaminação venenosa de multilateralidade.

Com a telefonia móvel um prato não nos será mais servido. O do mistério. A disponibilidade permanente das portas abertas durante 24 horas ininterruptas, em multicanais de escolhas, sem censura e limites obesam o cérebro.

Onde não há mistério, não há o Humano. Ao longo de toda a História a ignorância, o medo, o gosto por saber ou por elaborar, sempre foram ingredientes imperiosos à natureza da mesa.

Perdemos a ignorância e com ela a inocência. Tudo está disponível para ser deglutido em pílulas breves, de fácil digestão e esteticamente sedutoras. As mídias eletrônicas, os bancos, as lojas de comércio, as seitas, os canais de encontros para todas as finalidades, tudo ao alcance de nossos garfos e facas.

Labuzem-se é a chamada.

Sobre o signo da velocidade de um clic a mesa, com serviço giratório, nos oferenda pratos requentados. A novidade não traz o novo, embora travestida de contornos. Do que se nutre é do mesmo.

As boates pegam fogo, casas de sociabilidades são atacadas por exércitos de um único transloucado que dizima dezenas; solitários suicidas explodem mercados, praças públicas, locais de eventos. O terror está incluso e já é hoje, menu internacional.

Nada nos escandaliza e nem nos acomete. O tempero já não diz mais de um sabor que nos sirva, de fato, a novas experiências nutritivas. O que se lava, não se limpa. Nem em séculos ocorrerá assepsia. Nem mesmo indo às ruas, com revoluções armadas, ingredientes do gênero. Esse câncer não tem cura.

No micro, crimes (não mais hediondos) se repetem sobre toalhas ensanguentadas. O último divulgado, levou esposa, filho, parentes, amigos e a si mesmo. Um psicopata, exalaram todos os canais.

A psicopatia não está nele, apenas. A psicopatia está na cozinha, em tantos que formulam receitas que implicam nessas não mais indigestas consequências. Quem será o próximo ou a próxima a incendiar, picotar, balear, esfaquear, seviciar um próximo ou uma próxima à mesa.

De todos os pratos servidos há um que mais me angustia e que, talvez, fosse aquele que poderia nos ressaudar. O da cultura e, por decorrência, seguido o prato das artes.

Em todos os cardápios disponíveis o que se serve não nos nutre e, pior, não nos trará higidez e saúde. Antes pelo contrário, são perversos, desprovidos de propósitos, contaminados às vísceras e sem o menor sabor.

Sem cultura e arte, morte ao mistério.

Fecha-se o ciclo alimentar.



Até breve. 

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