Pretinha levou de volta para Lages,
na quarta-feira (18), Liz e Valentin. Antes passou por Floripa onde fica até
hoje junto com Cláudio para aproveitarem praia.
Não pude leva-la ao aeroporto.
Viajei quarta e quinta-feira a trabalho, o que me incomodou um pouco. Voltei da
viagem mudo com uma forte inflamação na garganta. Na sexta-feira de 10:00h às
13:00h participei, com dificuldade, de reunião com cliente.
À tardinha vim pra Santa Luzia. Dei
carona para tia d’Ela até a sua casa. Marlene estava um pouco aflita com o que
estava acontecendo naquele dia. Com a posse de Trump ela teme que um de seus
filhos, que vive há muitos anos na América, possa encontrar dificuldades de
permanência e trabalho.
-“Já estou me vendo com os meus dois filhos cinquentões e família morando
comigo no meu apartamento.” Disse Marlene referindo-se também ao outro (mora em
BH), engenheiro dono de uma pequena empresa de projetos, que há vários meses não
é demandada.
Na sexta-feira à noite liguei para
Vladimir perguntando se viria no sábado com Fabiana trazendo Antônio e Helena. “Não pai, a gente quer que você descanse de
netos.”
Sem netos, vou me cansar com que
então?
Assisti o discurso de posse de
Trump: “A América primeiro. Negros,
mulatos e brancos têm sangue vermelho de patriotas. Americano compra produtos
fabricados por americanos. Americano emprega americanos.” Síntese
aterrorizante.
Trump parece anunciar que a ordem
mundial que nasceu após 1945 e criou uma harmonia estreita entre as duas
margens do Atlântico poderá sucumbir a seus repetidos ataques.
O isolacionismo para começar. Desde
1945, republicanos e democratas seguem a mesma linha: Europa e EUA estão
engajados num único caminho e edificando uma “ordem liberal”. Trump parece
decidido a reformular o mapa geopolítico mundial. Ele acredita que a Rússia tem
o “direito de controle”, quase de “proteção” sobre a antiga Europa soviética (Ucrânia
e países bálticos), além de achar que a Otan está obsoleta e ameaça se desligar
dela.
“América em primeiro lugar” é o
slogan que, para os europeus, significa que a Europa ficará entregue a si
mesma, abandonada. Devolver à América sua grandeza exigirá poupar a nação dos
exaustivos encargos que ela assumiu após 1945. E esse é o temor da Europa: que
os EUA a deixem sozinha. E o pior, em estado de fragmentação.
Uma segunda brecha no edifício
construído após 1945: o protecionismo. Após a guerra, todos os presidentes
defenderam o dogma, quase sagrado, do livre-comércio. Trump poderá se desligar
dessa estrutura que atualmente é a OMC.
Outro instrumento da longa
cumplicidade entre americanos e europeus desde 1945: a União Europeia. Trump
não aprecia essa UE “que está a serviço da Alemanha”. Além disso, não está
preocupado se a Europa está unida ou não. E ele gosta dos que não gostam da
Europa.
O divórcio do sistema mundial que
nasceu após 1945, a indiferença em relação à Europa, a rejeição do
livre-comércio, sua cortesia com relação à Rússia, tudo isso é tão radical que
as pessoas se perguntam se são apenas provocações que se corrigirão quando
Trump cair na realidade.
Mas então examinamos os
colaboradores escolhidos por Trump, um bando de bilionários, reacionários e
exaltados. Tudo indica que a ordem mundial que reina desde 1945 corre até o
risco de ser desfeita nos próximos meses. Surge, então, uma outra questão: é
verdade que essa ordem parece hoje ineficiente. Mas a nova ordem em gestação
será mais justa, mais harmoniosa, mais generosa que a antiga?
Finalzinho da tarde do sábado marejei
os meus olhos por outras razões: assisti Maria Bethânia, no Canal Brasil. Bethânia
interpreta as canções com sua habitual entrega, saboreando os versos.
Carta de Amor, produção do Canal
Brasil em parceria com a Biscoito Fino, seu disco mais recente – Oásis de
Bethânia, de 2012 – serviu de base para a escolha do repertório. Comparecem: Chico
Buarque, Paulo César Pinheiro, Gonzaguinha, Caetano Veloso, Arnaldo Antunes, Alceu
Valença.
As lágrimas são por força de uma
pergunta: “Meu Deus, o que será o mundo sem esses?”.
À noite, depois de passar pelos
noticiários, assisti no Cult A Conexão
Francesa.
La French refere-se
ao nome da rede de tráfico com base em Marselha, metrópole portuária do
Mediterrâneo, que abasteceu os Estados Unidos com toneladas de heroína no
começo dos anos 1970, elevando exponencialmente a criminalidade em cidades como
Nova York, seu principal destino.
Nascido em Marselha, o diretor
Cédric Jimenez cresceu ouvindo histórias dos tempos em que sua cidade foi o que
seria na década seguinte a Medellín de Pablo Escobar, traficante que fez os EUA
mergulharem em cocaína: uma terra de ninguém dominada por mafiosos que
ordenavam assassinatos de desafetos nas ruas à luz do dia e controlavam tanto a
economia local quanto a polícia e a justiça.
Dramática coincidência ou
programação mais do que intencional, o filme baseado em fatos reais, portanto,
narra a trajetória de um Juiz da Divisão Contra o Crime Organizado que é
assassinado pela máfia.
Em seguida, sem sono, ainda assisti
Até que a casa caia.
Apesar de separados, Rodrigo e Ciça
continuam a viver sob o mesmo teto, um minúsculo apartamento de três quartos em
Brasília, por razões financeiras.
O arranjo pouco usual coloca o
casal em situações de conflito e faz Mateus, filho adolescente do casal,
alimentar a esperança de que os pais reatem.
Rodrigo é professor de um curso de
alfabetização de adultos, mantido por uma ajuda do governo que corre risco de
corte. Para salvá-lo, ele pede ajuda a um deputado.
Figura ridícula, dá aulas com um
nariz de palhaço e aceita, depois de breve relutância, participar de uma rede de
maracutaias envolvendo o tal deputado e um grupo de empresários.
Ciça também é marcada pelo
escracho. É mostrada como uma mulher fútil, mística de pacotilha que trabalha
em casa fazendo consultas astrológicas para clientes tolos.
O delicado equilíbrio familiar é
abalado com a irrupção de um quarto personagem: Leila, a secretária do
deputado, que Rodrigo começa a namorar e que vai praticamente morar no
apartamento dele.
Pois é.
A sequência alucinante de fatos devastadores
que devastam da cena o imediatamente anterior. As cabeças cortadas nos pátios
de presídios, a queda do avião com o Ministro, a posse de Trump. Até que a casa
caia.
No meio disso tudo: Marilda
Castanha, minha vizinha, esposa de Nelson Cruz ambos papa-prêmios nacionais de
literatura e ilustração publicou no FB notícia vinda diretamente da Coréia do
Sul. Pelo belíssimo trabalho do livro "Sem Fim", no qual homem e
arvore "conversam" por imagens, Marilda acabou de ser anunciada
vencedora na categoria "Purple Island" do Nami Concours.
Acho que agora vou seguir a
proposta de Marilda no Sem fim. Vou lá prá baixo conversar com minhas árvores.
Semana que vem, me canso com meus
netos.
Até breve.
Agulho, feliz demais de ter sido citada por você, no seu blog. Na verdade acho que "conversando" com as árvores é que nos tornamos mesmo mais humanos. Principalmente agora, entre trumps e tantos outros...
ResponderExcluirQuerida, você sabe que meu blog é algo assim como uma conversa ao pé de uma frondosa mangueira. Palavras à sombra de significados. Muito obrigado pelo comentário.
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