Combinamos de nos encontrar para
compartilhar delírios. Eu e Barreto, aquele sujeito que me faz vínculo com meus
ideais da juventude.
Ele se virou ou a Vida fez com que
ele se tornar-se escritor. Dei à Dona Ismênia, no sábado passado, como presente
pelos noventa anos dela, um dos livros do amigo: das simpatias. Recebi todos os
agradecimentos, ela me disse que ri sozinha só de lembrar-se de passagens dos
textos.
Pode alguém querer algo mais para o
outro, pelo qual tem o maior afeto, alegria? Pois é, Barreto foi catalisador,
com seu brilhantismo poético, a fazer Dona Ismênia sorrir, e muito.
Aí combinamos de nos encontrar para
“tomar umas cervas” e misturar horrores e neusocoticos sacstificantes, isto é,
delírios. Coisas que ainda não existem e que só perambulam nos territórios dos
poetas.
Só que Barreto levou Graça, sua
esposa, junto. Eu lido bem com o inesperado, sempre quando ele não aconteça.
Graça, a quem Barreto chama de
Neguinha, desandou o propósito. A conversa combinada era para nós dois. Só que,
ao longo de todo o encontro, Graça monopolizou a cena.
E o pior, foi ótimo.
Ela, logo que sentamos no bar,
falou de um grande amigo comunista que até hoje crê na perspectiva da
revolução.
Daí emendou para experiências que
ela teve como professora para adultos que não fizeram, pelas mais diversas
circunstâncias, o ensino fundamental. Nas salas de aula, adolescentes e idosos,
numa química extraordinariamente interessante para a maestria.
E por ali ela foi, tecendo a fala
de um ponto a outro num ritmo alucinante que, eu e Barreto, espectadores quase
passivos, tentávamos entender o que estávamos fazendo ali. Eu digo “nós”,
porque mesmo que Barreto não concorde com isto, eu o quero como comparsa.
Graça foi fondo, ligando uma pessoa
à outra, um novelo a outro e, de repente:
- “Eu sou tarada por futebol”!
- “E prá que time você torce”? Perguntei,
quando pude.
- “Ah, eu sou vagabunda”!
Antes que eu me recuperasse do
susto ela foi logo dizendo:
- “Torço pro Cruzeiro, mas no dia
da Libertadores quebrei a nossa cama de tanto pular torcendo pelo Atlético!”
E não parou aí. Lembrou-se de uma
pessoa que fazia para ela a limpeza do apartamento. A mulher apanhava com
regularidade do marido sempre que o sujeito tomava doses ou garrafas a mais.
Até que um dia um vizinho do casal, depois de salvá-la de um desses ataques,
levou-a para um canto e ponderou:
- “Poxa, você é uma mulher
trabalhadeira, faz tudo para o seu marido e o cara ainda te bate? Por que você
não larga esse cara e vem morar comigo”?
Graça arremata a história imitando
a ajudante:
- “Dona Graça, num é que eu aceitei
e de um dia pro outro eu tava morando com o vizinho”?
Despedi-me do casal amigo e, no
caminho de volta para casa, fiquei pensando qual fonte de inspiração o meu
querido amigo apoia-se para cunhar suas fantásticas pérolas literárias.
Eu acho que ele é cheio de graça.
Ate breve.
Assim vc mimata do miocárdio, velho amigo! Adoramos! Inesquecivel! Obrigadoooos!
ResponderExcluir(Barreto e Graça)