“A morte é indestrutível”. Manoel
de Barros foi quem disse. Nada mais inexorável do que ela. Especialmente quando
fora daquilo que parece ser razoável, natural, aceitável. A morte na velhice,
tudo bem. Como dizia minha avó Eulália, “prá lá nós vamos”.
Ceifar a vida de um jovem de 29
anos é cruel. Foi com esta palavra que Carlos Augusto pai de Túlio, acolheu
meus pêsames pela perda de seu filho vítima de um câncer raro.
Jovem cheio de vida, humor, alegria
e de uma simpatia ímpares. Estava nos USA e foi atendido em um hospital de lá se
queixando de fortes dores. Todos os exames foram feitos e não foi possível
diagnóstico preciso.
A mãe, precavida, voou
imediatamente para buscar Túlio. Foi em agosto deste ano. Retornou dois dias
depois trazendo o filho. Desceu no aeroporto e de lá foi direto para um
hospital. Novos exames e nenhuma constatação conclusiva até que os médicos
resolverão abrir.
Aberto o corpo do jovem e feita uma
incisão em um dos rins a maligna surpresa.
De agosto até a madrugada de ontem,
Túlio fechou-se em seu sofrimento pedindo aos pais que não compartilhasse com
ninguém a sua dor. De forma avassaladora outras partes do corpo foram tomadas
retirando toda esperança.
Recebemos a notícia por volta da
uma hora da tarde de ontem.
Passei o resto do dia e boa parte
da noite pensando: como encontrar sentido em uma morte destas? Recentemente, em
acidente aéreo, nos deparamos com a perda de dezenas de jovens no auge de suas
vidas.
Mas foi um acidente trágico.
No caso de Túlio, não. Foi uma
crueldade ou, no mínimo, uma brutalidade.
Claro que não é a primeira e nem
será a última morte semelhante. Diariamente é provável que inúmeras vidas sejam
abreviadas brusca e inexoravelmente em circunstâncias idênticas.
O sentido da perfeição perde nexo.
O Criador é colocado em cheque pela simples pergunta: por que, meu Deus? Como
entender este câncer? Especialmente por ser raro, parece que no Brasil foram
identificadas menos de uma dezena de casos.
Nunca soube o que dizer em
velórios.
Ontem, enquanto conversava com um
dos tios de Túlio, amigo-irmão, eu tentava pensar em tudo, menos no que acabara
de acontecer. Ouvia o choro alto e intenso da mãe, acolhida pelo outro filho.
Ítalo, inconsolável.
Minha ingênua tolice me impõe uma
queixa.
Por que, Deus?
Até breve.
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