sexta-feira, 18 de novembro de 2016

TRAVESSIA



Em reunião de trabalho que participei esta semana, dentro de um contexto de debate sobre governança corporativa, um empresário disse: “Não há como ir da anarquia para a democracia sem passar por uma ditadura”.

Só vindo à post para poder elaborar e fora do contexto em que foi colocada a assertiva.

Se voltarmos a junho de 2013, para datar, vamos fazer registro do início de um conjunto de manifestações populares com diferentes e amplas demandas, que vão do preço de passagens de ônibus urbano, a direitos iguais para todos os gêneros, fim da corrupção, da violência, da insegurança, da falta de saúde, da falta de...

De lá para cá foram criadas condições institucionais, com arcabouço jurídico, que permitiram intervir em uma das maiores chagas do corpo brasileiro, a imensa e profunda metástase do mercado de vilanias, extorsões e todo tipo de assalto aos cofres públicos, patrocinado por empresários ícones e políticos de todas as cores.

A máquina Brasil travou e com ela a geração de mecanismos econômicos que determinam a geração de arrecadação pública, emprego e renda, fatores essenciais à saúde do corpo social.

A solução política de afastamento de um governo inepto para um de transição com respaldo constitucional não vem se mostrando capaz de criar uma agenda que leve efetivamente à complexa terapêutica.

Descerebrada, e com necessidades objetivas prementes, parte da sociedade toma coragem e volta às ruas no afã de serem ouvidos os seus clamores. Alguns como aqueles poucos que, corajosamente, tomaram as dependências da representação popular de assalto e sob o signo de “patriotas” pediram que os militares assumissem.

Outros fatos isolados emolduram um quadro de realidades preocupante.

Em Porto Alegre, capital de um dos estados falidos, presidiários são alocados dentro de veículos estacionados nas calçadas e vias públicas expondo de forma contundente a dimensão de sua crise.

No Rio de Janeiro, a Assembleia Legislativa encontra-se blindada para conter invasões populares que, ontem, passaram de reivindicativas para comemorativas pela prisão de dois dos satrápias sanguessugas que ocuparam o maior posto de comando do estado, uns dos tantos que levaram a cidade maravilhosa à bancarrota.

Expressivo debate entre dois juízes midiáticos da Suprema Corte que destilaram seus venenos pessoais perdendo de vista a dimensão objetiva do impacto que o entrevero escroto poderia acarretar ao já aterrorizante desarranjo institucional.

O aprofundamento das investigações da Operação Lava Jato e seus, agora, denominados “filhotes” que varrem tramas, orgias, sempre sabidas, mas nunca reveladas.

Não há um empresário que tenha contrato com os governos federal, estadual e municipal e nenhum político dessas esferas e seus intermediários que não esteja neste momento com seus advogados a postos.

Nesse contexto há tragédias irreparáveis e entre elas a de um pai que mata o filho, em seguida suicida-se. Motivo: o jovem era um “militante”.

A Polícia Federal batizou a operação, que prendeu o ex-governador do Rio, de “Calicute”, região da Índia onde o descobridor do Brasil, Pedro Álvarez Cabral, teve uma de suas maiores tormentas. 

Calicute é aqui, todo um país que vive uma de suas maiores tormentas.



Até breve.

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