Acabo de receber notícia via e-mail
que terei um conto meu publicado.
Anexos ao e-mail vieram documentos,
declarações e autorização para divulgação e, para minha imensa surpresa a
informação de que receberei uma quantia por ter contribuído com o veículo.
A publicação deverá estar sendo
distribuída nos primeiros meses de 2017, o que faz pensar que, se for em
fevereiro, celebrará os meus sessenta e cinco anos.
Deverá coincidir também com o
atingimento de 1000 (isto mesmo, mil) posts editados aqui no dasletra,
que receberão milhares de acessos.
Já não morrerei sem ser publicado.
Para quem passou a vida até aqui desejando escrever-se é um bálsamo.
Muito bem, que interesse pode ter
você aí que chegou até este ponto? Nenhum, claro.
Só que, me deixe lhe dizer o
seguinte. Paulo Freire escreveu certa vez que “a leitura do mundo precede a
leitura da palavra”.
Eu, de sempre, ruminei e ainda
muito rumino, sobre as acontecências, manoeldebarros falando. Nada passou por
mim sem que eu quisesse ter compartido e levado à palavra.
Sei não se para compreender. Ou
não, porque no fundo, a palavra não dá conta.
E parece ser essa a encrenca. Viver
é, em última instância, inscrever-se. E se faz pela via da linguagem. Para ser
é preciso que se fale a respeito.
Quem tivesse saco e fosse debruçar
sobre a boa maioria dos meus posts aqui no blog seguramente saberia mais de mim
do que eu mesmo, poderia até construir um outro-de-mim, mais do que eu, ou quem
sabe, um eu-de-mim que lhe valha à pena.
E parece ser esse o intento. Quem
escreve espera a universalidade em que caiba o mundo, todo ele, em cada frase,
cada ponto, vírgula e...
Olhe para você ver, novamente em
Paulo Freire: “Eu sou um intelectual que não
tem medo de ser amoroso. Amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas
e amo o mundo que eu brigo para que a justiça social se implante antes da
caridade.”.
Ou: “Não há o que não aja.”, em Guimarães
Rosa.
O mundo não seria se não fosse. A
palavra, que falta. Daí a vastidão.
Dói muito em mim a perda, na
modernidade, da palavra. No midiático tudo tende à imagem com o corolário de
que qualquer imagem vale muito mais do que mil palavras, mesmo tendo presente que
sobre qualquer imagem se produzirá milhares de palavras.
Em tempos líquidos elas vazam,
transbordam, se perdem. Como se fossem desnecessárias, obsoletas, incapazes,
tortas, vazias.
Como se não fossem nossas, como se
não fossemos nós mesmos.
Até breve.
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