O interfone tocou e o porteiro do
meu prédio pediu para que eu fosse lá embaixo para retirar uma
encomenda que acabara de chegar e que precisava ser me entregue imediatamente.
Um pacote comum envolvido em papel
barato e quando abri fiquei com um misto de espanto e de curiosidade. Eram
pequenos três ramos com algumas folhas e, em cada um deles, uma flor de
vermelho intenso e fosco. Nenhum cuidado especial de embalagem, nenhum aparato
de proteção.
Apenas três flores vermelhas. E um
bilhete.
“Estas flores foram colhidas pela
manhã em Calistelterat, na região de Gnosnjuisf, ao sul de Vermistalen. Durarão
até que você as entregue a alguém. Depois, dependerá.”
Qual foi o sacana que aprontou
esta? Pensei.
Não sou grilado para estas coisas,
mas sei lá se jogo incontinenti tudo fora. Ou se entrego para alguém dizendo a
procedência. Vai que eu minta: que a indicação de quem me remeteu exige que eu
entregue para pessoas especiais. Ou que não, diga apenas que elas acabaram de
ser colhidas pela manhã em Calistelterat...
Fiquei com aquilo amoitado em casa
por alguns dias. À noite acessava o pacote para ver como estavam sempre supondo
que, sem cuidados, o conteúdo estava murcho. Nada, estavam lá como chegaram,
flores de um vermelho intenso e fosco.
Um dia resolvi retirar uma e, zaz,
ela murchou. A flor foi empalidecendo até acinzentar-se, enegrecer-se e secar
em farelos. Será porque eu não havia pensado em ninguém para entregar? Ou eu
deveria ter entregado as três e dentro do mesmo pacote? Ou eu não poderia ter
pegado, como o fiz, sem cuidados? Ou...?
E agora?
Voltei com elas para a moita e
deixei que o tempo passasse por dias, não sem deixar de pensar um instante
sequer em o que fazer com as duas flores de vermelho intenso e fosco que
restaram.
Resolvi então entregar a uma pessoa
próxima relatando todo o acontecido sem fazer nenhum reparo nem para mais e nem
para menos. Exatamente como o ocorrido. Fui à moita e, qual foi a minha mais
cruel surpresa quando abri o pacote?
Havia uma única flor de vermelho
intenso e fosco. Nem vestígio da outra, nem farelos. Alguém teria descoberto o
pacote? Impossível. Então quem a tirou dali? Porque murchar ela não murchou.
Meses se passaram. De quando em vez
abria o pacote. Ela estava lá no mesmo estado de sempre. Pensei então em reunir
a família e contar tudo. Foi o que fiz. Só que quando fui com todos à moita,
cadê o pacote?
Vasculhei por todos os lugares e
nada. O pacote com a derradeira flor de um vermelho intenso e fosco havia
desaparecido.
A partir deste dia comecei a sentir
que a família exalava uma preocupação quanto ao meu estado já que eu reiterava
os fatos tal como ocorreram.
Até breve.
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