sábado, 11 de junho de 2016

MARITACAR



Hoje, desocupado de netos, sobrou-me esse sábado em Santa.

Tô descascando um texto recomendado por uma amiga virtual de nome estrábico que me leva a supor ser das bandas de uma croácia, talvez suécia, quem sabe das polônia. Importa pouco onde ela decegonhou.

A Mente Esquerdista – As causas psicológicas da Loucura Política, do Dr. Lyle H. Rossiter, médico psiquiatra da Universidade de Chicago.

“Os governos sempre declaram que seus propósitos são a proteção dos direitos das pessoas e a manutenção da ordem social, mas mesmo com a melhor das intenções, eles violam rotineiramente os direitos dos indivíduos e desorganizam a ordem que deveria proteger.”

“Em vez de promover uma sociedade racional de adultos competentes, que resolvem problemas através de cooperação voluntária, a agenda esquerdista moderna cria uma sociedade irracional de adultos infantilizados que dependem dos cuidados do governo para com eles. Em seus esforços constantes para coletivizar os processos econômicos, sociais e políticos da sociedade, a agenda esquerdista enfraquece os traços de caráter essenciais para a liberdade individual, a segurança material, a cooperação voluntária e a ordem social.”

“A agenda esquerdista despersonaliza, e até mesmo desumaniza, os cidadãos quando exalta a bondade de um “todo” abstrato sobre a soberania do indivíduo, que deve estar assim subordinado aos fins coletivos do Estado. De fato, para o integrante do governo imerso nos propósitos coletivistas, seres humanos são coisas a serem dominadas; são meros meios para atingir fins.”

“A ascensão da agenda esquerdista ao poder resultou de um significado particular atribuído ao governo pelos povos das sociedades ocidentais, a saber, que o Estado é uma fonte da qual se satisfaz os anseios do povo por formas diversas de cuidado paternal. Como resposta ao convite dos políticos esquerdistas, as pessoas agora pedem a intervenção do governo em todos os principais setores da vida; creches, educação pública escolar e pré-escolar, educação sexual, regulamentação dos empregos, segurança ocupacional, qualidade e confiabilidade de produtos, regulamentação da moeda e dos bancos, regulamentação de remédios e alimentos, políticas de saúde, compensação por deficiências pessoais, segurança por aposentadoria, etc. Diante do clamor das pessoas, os oficiais do governo têm se tornado administradores do cuidado paternal, da proteção e das indulgências, desde o berço até o túmulo. Os políticos que se identificam com esses anseios e os exploram em forma de legislação e propaganda de campanha têm desfrutado de grande sucesso nas urnas. Mas o custo da infantilização das pessoas é uma ampla deformação de sua competência.”

Um revoadaço de gorjeios esverdeados das maritacas que visitam nossas palmeiras de maio a agosto espargiu minha concentração e, então, coloquei de lado o livro e fui beber uma água e destrebuchar um pouco as articulações.

Nisso li no WhatsApp mensagem de um amigaço versando sobre um tema relevante: sexo na velhice. Bebi mais um copo bem cheio de água.

Depois zapiei um pouco o tal de face, este horror. Lá achei recomendação do Humberto Werneck para ler a crônica do Sérgio Augusto no Estadão. Fui pro computador e li a coisa. Sérgio comenta o livro de um americano de origem turca chamado Jarett Kobek, que mora em Los Angeles e conhece intimamente o Vale do Silício. Título: Eu odeio a internet. Subtítulo: Um romance salutar contra os homens, o dinheiro, e o lixo do Instagram.

Escreve Sérgio: “De saída, antes mesmo de introduzir seus personagens e salientar que I Hate the Internet não passa de “um romance ruim”, Kobek relaciona as suas tangentes: o capitalismo, o terrível fedor de homens, os anacronismos históricos, as ameaças de morte, a violência, o bullying, a servidão humana, o racismo, os modismos culturais de massa, o desespero, o desabrido deboche dos ricos, as agressões sexuais, o epicurismo yuppie, o culto às celebridades, a indústria dos quadrinhos (e seu mártir número um, Jack Kirby, figura central de uma indignada, mas, paradoxalmente, serena reflexão sobre os comics e os magnatas que à sua custa enriqueceram), a ficção científica, o 11 de setembro.

Não se esgotam aí as tangentes do autor. Kobek também se refere e às vezes divaga sobre a morte do intelectualismo, o tratamento dispensado às mulheres numa sociedade misógina, o populismo, o paganismo neo-helênico, a vida sexual de Thomas Jefferson, o genocídio, a filosofia objetivista de Ayn Rand, as guerras injustas no Oriente Médio, o casamento interracial, a postura arrogante dos millenials e a melancólica trajetória dos que vão para a Califórnia morrer. Tudo se imbrica como num misto de looping e quebra-cabeça.”

Já passou a hora de encerrar este post e ainda tenho sábado. É que de repente toca o telefone. Uma amiga-irmã, às lágrimas, veio me dizer que a trupe da qual participa sua filha, a adorável Alice, acabara de vencer em Madri uma maratona de balé com quarenta companhias amadoras concorrentes.

Aí, feliz, deu. Só de podia de nos acabamentos chamar o Guimarães Rosa:

“O certo era a gente estar sempre brabo de alegre, alegre por dentro, mesmo com tudo de ruim que acontecesse, alegre nas profundezas. Podia? Alegre era a gente viver devagarinho, miudinho, não se importando demais com coisa nenhuma.”



Até breve.

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