Concluído este post terei tomado
uma decisão extrema. Lançar-me-ei através da janela da sala do apartamento do
edifício onde moro. Décimo-quarto andar. Acredito serem remotas as chances de eu
sobreviver pós-queda.
Registro as minhas razões: a
primeira, que considero determinante e as demais todas que reputo secundárias.
Depois de quase mil posts editados em
meu blog, nos últimos cinco anos, não consegui atingir a milionésima marca da
canção “Ai se eu te pego” do ex-célebre Michel Teló, e nem a milésima marca
dos diferentes Safadões, nas estatísticas de acesso aos vários veículos de mídia.
Como se não me bastasse esta imensa
frustração e as doses venenosas do vírus maligno da inveja, outras questões
fizeram com que eu, de vez, desistisse de me manter entre os vivos.
Não encontro mais nenhuma razão
para manifestar sobre Política.
Não encontro mais nenhuma razão
para manifestar sobre Atentados.
Não encontro mais nenhuma razão
para manifestar sobre discriminações.
Não encontro mais nenhuma razão
para manifestar sobre Artes.
Não encontro mais nenhuma razão
para manifestar sobre.
Não tenho mais nada a dizer sobre a
minha infância, a minha família, os meus amores, os meus amigos.
Não tenho nenhuma ideia original
que me remeta a conto, crônica ou romance.
Não tem ninguém que eu queira ainda
conhecer e nenhum lugar que eu queira visitar. Nenhuma comida, doce ou bebida.
Nenhuma roupa que eu queira vestir, ou sapato calçar.
Nenhuma música que eu queira ouvir.
Nem quero mais rever Cinema Paradiso, Era uma vez na América, O Carteiro e o
poeta.
Nenhuma pelada que eu queira jogar.
Nenhuma trepada que eu queira dar. Nenhum gozo.
Nada que justifique alimentar isto
que sou. Uma bisnaga de carne, vociferante.
Portanto, pedi ao zelador do prédio
que aguarde por meia-hora a limpeza do pátio aos pés da janela de meu
apartamento. Nunca suportei retrabalho. Comuniquei a todos os meus clientes que
hoje não poderei atendê-los.
Escolhi a roupa mais surrada, vou
de meias. Ou será voo?
Tomarei um copo d´água. Urinarei e
escovarei os dentes, não necessariamente nesta ordem. Deixarei como estão os
meus cabelos, minhas unhas tanto dos pés, quanto das mãos.
Deixarei portas abertas e a TV
ligada, muda, sintonizada no canal do Senado Federal.
Mandarei uma mensagem para Ela, via
WhatsApp: “Bem, hoje não almoçarei
contigo.”
Lerei pela última vez o que está
escrito em adesivo, que mantenho há anos, fixado em meu laptop:
“Se você tivesse acreditado na minha brincadeira de dizer verdades, teria
ouvido as verdades que eu insisto em dizer brincando. Falei muitas vezes como
um palhaço, mas nunca desacreditei na seriedade da plateia que sorria.” (Chaplin)
Descerei, lentamente, a tampa de
meu laptop.
E o desligarei.
Até breve. (Entendam
como quiserem)
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