quinta-feira, 5 de maio de 2016

TRIGO



Queridos companheiros,

Permitam-me trata-los assim aqueles com os quais divido o pão simbólico da esperança em um mundo melhor. Um mundo em que não seja caracterizado pelo profundo abismo de desigualdade social. Um mundo em que seja possível a harmonia e a paz entre todos os homens de boa vontade.

Dirijo-me aos meus queridos parentes e amigos com os quais tenho o privilégio do convívio mais íntimo e restrito e também àqueles distantes por quem nutro um imenso respeito e gratidão pelo gosto ao saber e à poesia.

Dirijo-me àqueles que pelo amor à justiça, ao bem, à causa da superação humana, aos desvalidos, aos menos favorecidos pela sorte, aos excluídos pela natureza de cor, opção sexual, religiosa, enfim a todos aqueles apaixonados e íntegros na defesa dos mais fracos e oprimidos.

Dirijo-me a todos aqueles com os quais me assemelho.

Dirijo-me à Pretinha, minha filha, que tem por força de seu dever de ofício na seara da saúde mental, convivido diariamente em seu consultório com nossa tragédia social e que, também por força disto, simpatizado com determinado alinhamento político.

Dirijo-me à Marilda Castanha, minha vizinha, a Humberto Werneck, Chico Buarque de Holanda, Luiz Fernando Veríssimo, Vladimir Safatle, Fabio Konder Comparato, Letícia Sabatella e a tantos outros luminares da cultura, das artes, da filosofia, por quem nutro profundo respeito e admiração intelectual.

Convido-os à reflexão. É imperiosa e inadiável a tarefa de reconhecer que fomos traídos por algumas pessoas que se apropriando de nossos ideários e discursos, recebedores de nossa irrestrita confiança expressa em nosso maior valor democrático - o voto soberano – denegriram e violentaram nossos maiores sonhos de mudança.

É preciso extirpa-los para que com eles não se percam os nossos ideais revolucionários. Estes que mancharam, por interesses escusos e inconfessáveis, que nos fizeram de escudo pela nossa lisura e paixão desmedida para se locupletarem em ganhos advindos de vergonhosa e imunda trapaça.

É preciso deixa-los a mercê de seus crimes hediondos, bani-los da História, sob pena de perder com eles a chama da defesa de nossos ideais mais nobres. Apesar de favorecer circunstancialmente aos oportunistas de plantão, que lentamente também serão julgados, vamos recuperar de vez nossa fé e determinação na luta que sempre pautou o nosso espírito.

É preciso fazer compreender àqueles que se deixam levar pela avalanche do que negam o que está verdadeiramente em jogo. Não podemos no afã de defender lideranças espúrias, condenar nossas instituições pelas quais tanto trabalhamos e que precisamos dar crédito e fortalecer.

É hora da razão, do equilíbrio, da serenidade e da vigilância. Somos todos protagonistas de uma nova realidade brasileira, e precisamos confiar que vamos tirar desta amarga experiência uma lição definitiva.

Os fatores que outrora marcaram nossa conduta política caducaram. A ideologia de que somos condenados a ser por força do imperialismo americano ou bestializados por uma mídia programática tornou-se ridícula, patrocinada por delirantes.

Não vamos nos pautar pela tensão e imediatismo, vamos seguir na defesa das instituições, nos preceitos constitucionais e no império da Lei, rechaçando práxis que com o exclusivo interesse de vitimá-las as colocam em questão.

Hoje o que faz opinião e determina o curso dos fatos são as redes sociais trazidas à tona por uma juventude que nega mecanismos de opressão e deslavada mentira.

Nossos jovens estão ocupando o que é, por direito e conquistas, nosso. Nossas escolas, nossas casas legislativas, nossa causa.

Vamos ombrear pelo que está por vir e lutar sim por um tempo em que jamais sejamos traídos de forma tão cruel como fomos por estes que precisam passar seu ocaso no cárcere.

Vamos conduzir nossa conduta com faróis altos, com uma visão de longo prazo, já que não é uma tarefa para anos, mas para décadas. Mas vamos continuar agora.

Por nossos netos.



Até breve.

5 comentários:

  1. Agulho,ser citada no seu post desta semana foi uma surpresa feliz! e ser sua vizinha e amiga é mesmo uma grande alegria para mim. Comungamos do mesmo sonho: um país onde não só nossos filhos e netos terão direitos garantidos, como tambem filhos e netos de quem ainda não os tem. Não sei se o próximo governo conseguirá isto. Mas continuaremos a lutar por isto. E concordo com você quando diz que teremos que vigiar, acompanhar. E nesta vigília, mesmo se discordarmos em um ponto ou outro, estaremos juntos. Deixo meu grande abraço! Marilda Castanha

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  2. Agulho,ser citada no seu post desta semana foi uma surpresa feliz! e ser sua vizinha e amiga é mesmo uma grande alegria para mim. Comungamos do mesmo sonho: um país onde não só nossos filhos e netos terão direitos garantidos, como tambem filhos e netos de quem ainda não os tem. Não sei se o próximo governo conseguirá isto. Mas continuaremos a lutar por isto. E concordo com você quando diz que teremos que vigiar, acompanhar. E nesta vigília, mesmo se discordarmos em um ponto ou outro, estaremos juntos. Deixo meu grande abraço! Marilda Castanha

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  3. Seu comentário me enche de alegria por contemplar: “continuaremos a lutar por isto”. Aqui reside a conduta que Ariano Suassuna defendia. Entre a resignação e a indignação ele recomendava que optássemos pela esperança ativa. Sua atuação como intelectual, pela qual tem sido agraciada, é indispensável e a mim orgulha profundamente. A Utopia está logo ali... Adiante.

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  4. Acima de qualquer ideologia devemos valorizar, sempre, a correção no trato com o bem comum.

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